O novo filme de Milos Forman, oito anos depois do extraordinário «
Man on the Moon», não é, ao contrário do que a filmografia do realizador sugeria à partida, uma biografia sobre o famoso pintor espanhol que dá título ao filme. Na verdade, nem Goya é a personagem principal desta obra, nem o filme se apresenta como uma biografia.
O que filma então Forman ao longo de 2h de película? Nesta interrogação mora simultaneamente o falhanço e o fascínio de «
Goya’s Ghosts». Porque se é certo que o olhar sobre a matéria histórica é sobretudo um olhar sobre os fantasmas que a atravessam (e nesse sentido o muito perturbante plano final é a revelação e a síntese disso mesmo), não é menos verdade que esse ponto de vista se assume como demasiado ousado para ser concretizado no modelo narrativo escolhido.
Arrasado e ridicularizado um pouco por toda a parte, «
Goya’s Ghosts» está, no entanto, longe do desastre anunciado. Os problemas de argumento e a dispersão narrativa são evidentes, mas a
singularidade do projecto nasce também da fusão entre esse lado descuidado e quase caótico e um lado quase fantasmagórico e perturbador que se vai adensando a partir da desarmante elipse que varre literalmente o filme ao meio. Falhado, mas levemente fascinante.