31.7.07

Michelangelo Antonioni (1912-2007)

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30.7.07

Ingmar Bergman (1918-2007)

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26.7.07

25 Anos Depois

Há 25 anos atrás, Ridley Scott estreava aquele que viria a ser um dos mais adorados filmes de ficção científica alguma vez a chegar ao grande ecrã. Depois de uma longa e atribulada espera, vai chegar finalmente a tão aguardada edição em DVD. E os detalhes da edição não poderiam ser melhores: Five-Disc Ultimate Collector's Edition, com cinco diferentes versões do filme, um making of, outros extras e ofertas.

Será sobretudo entusiasmante descobrir o que fez Ridley Scott no seu Final Cut e poder finalmente ver em DVD pela primeira vez a superior Theatrical Version, visto que, até agora, só o menor (mas magnífico) Director's Cut tinha edição em DVD.

A edição estará também disponível em HD-DVD e Blu-Ray, esperando-se, portanto, uma das melhores edições alguma vez feitas. Dia 18 de Dezembro nos EUA.

21.7.07

Stromboli, Terra di Dio


Independentemente dos seus méritos artísticos, Stromboli é um nome incontornável na historia do cinema. Primeiro filme da dupla Roberto Rossellini e Ingrid Bergman, viria marcar um casamento artístico que mimetizou a paixão na vida real, e que se consumou em mais seis filmes. A história é por demais conhecida: Bergman, à data a maior estrela de Hollywood, vê Roma, Città Aperta, Paisa e Germania Anno Zero e escreve a Rossellini dizendo que pretende trabalhar com ele sem condições. Conhecem-se apaixonam-se, ambos deixam os respectivos casamentos gerando o escândalo nos Estados Unidos e o deleite da imprensa cor-de-rosa.

À parte preferências pessoais – confesso que as minhas recaem sobre o avassalador Europa 51 que lhe sucede - é impossível ficar indiferente perante Stromboli. A imediata referência à “magia do cinema”, sempre tentadora, é aqui um caminho de equívocos. Porque, se existe uma presença quase opressora de forças sobrenaturais a dominar qualquer sala em que se projecte Stromboli, ela nada tem de mágico.

Apesar de escondida durante quase todo o tempo, a verdadeira motivação é explicitada logo na primeira imagem. Junto com um gigantesco “STROMBOLI” surge uma espécie de sub-título – a tal “TERRA DI DIO” que complementa o título original. Os dois substantivos, a “TERRA” e “DEUS”, estipulam assim, desde o inicio, dois dos três pilares que vão suportar toda a obra. O terceiro elemento é, naturalmente, Ingrid Bergman, ou Karin Jones, a mundana, a estrangeira, no sentido mais radical do termo àquela TERRA, cuja presença despoleta toda a cadeia de eventos. É da fricção constante de Karin (Ingrid) com a TERRA que vive Stromboli, e da omnipresença não consubstanciada de forças que parecem prendê-la a um lugar que, fisicamente, faz tudo para renegar. Essa presença domina o ar, os elementos, a sala de cinema, mas é sobretudo interior ao personagem – e interioriza-se no espectador, daí o incómodo que partilhamos com Karin – e tem tanto de elusivo como de real na forma como se sente cá dentro e na sua dimensão de desconhecido incontrolável.

Ao ver o filme pela primeira vez senti algo que identifiquei como uma empatia pela forma como Karin reagia perante a primitividade da ilha e as reacções dos seus habitantes. A dimensão do desconforto não podiam porém ser justificadas por tão pouco. Só dias ou talvez semanas depois me apercebi do que se tratava. Partilhei pois o incómodo de Karin, mas não era a fricção exterior que me perturbava, mas a convulsão interior. Aquela presença espiritual, ao mesmo tempo ligada a mim e exterior a mim. Só um realizador tocado pela Graça poderia conseguir tal efeito: consubstanciar DEUS no interior de um espectador ateu. E só uma actriz divina conseguiria ser o veículo de tal mensagem. Acredito que apenas Rossellini e Ingrid Bergman poderiam tê-lo conseguido. Acredito que, se DEUS existe, então a Graça juntou-os neste filme. E acredito que, se existem manifestações divinas na Arte, então STROMBOLI é o seu exemplo cinematograficamente mais relevante.

É impossível terminar sem referir os últimos quinze minutos de filme, quando Karin parte na mais desesperada das fugas. A erupção do vulcão que quase provoca a sua morte física é a chave para a revelação, para um novo mundo diante dos seus olhos. A cadeia inverte-se, são agora os elementos, a TERRA, que ditam a transformação de Karin. E é ela quem pronuncia, repetidamente o nome que a tudo dá sentido –“ DEUS, DEUS MEU, DEUS MESICORDIOSO!!”. Tal como Karin, só aqui o espectador percebe toda a dimensão do que viu – e sentiu – antes. As palavras serão sempre poucas para descrever a transcendência destes momentos e por isso aqui termino em silenciosa reverência.

19.7.07

Cinema em Ebulição


«Death Proof» é a quintessência do cinema puro de Tarantino e uma radical fissura na filmografia do realizador que rasga novíssimas perspectivas cinematográficas. É um filme de reinvenção constante (plano a plano, gesto a gesto, palavra a palavra), que consegue encontrar no banal um terreno de infinitas possibilidades sensoriais e humanas.

Em «Death Proof» vale o Cinema pelo Cinema, num gesto absoluto de liberdade e de autonomia. As suas imagens estão em permanente ebulição e a perspectiva cinematográfica é totalitária e irredutível. Um filme, pois, onde apenas existe Cinema e onde as imagens se esgotam a si próprias e se tornam absolutas. «Death Proof» assume-se, assim, na sua singularidade militante e implacável como um objecto anti-narrativo, anti-convencional, anti-temporal e anti-espacial. Pela nossa parte respondemos ao desafio: é um filme fabuloso para colocar bem no topo da filmografia de Tarantino, ao lado de «Jackie Brown» e de «Kill Bill – Volume 2», as suas obras mais maduras e perfeitas.

E Deus criou a Mulher...


A adoração de Tarantino pelo Feminino é algo já muito conhecido e parte integral da sua filmografia. Uma Thurman e Pam Grier encarnaram exactamente isso em Kill Bill e Jackie Brown. Mas Death Proof é diferente de tudo o que o realizador fez até então neste e em muitos outros domínios. A mulher é aqui vista enquanto entidade colectiva e é de facto impressionante a veracidade crua da interacção entre os vários corpos e vozes femininas, que desta forma se vão tornando em mulheres e personagens de corpo inteiro, lançando o seu irreversível feitiço sobre a câmara.

Quem desconhecesse o assunto em questão diria que se trata de um filme completamente diferente do que realmente é. A realidade é que Death Proof foi inicialmente concebido como uma homenagem ao cinema underground dos anos 70, glorificado nas salas de cinemas Grindhouse, título da double-feature convocada por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, em que os dois filmes, Planet Horror e Death Proof, foram exibidos numa só sessão com o requinte da feitura de trailers falsos alusivos ao tributo. Devido ao flop nas bilheteiras americanas este evento foi dividido nas suas versões completas para distribuição internacional.


E se a deturpação do intuito original dos realizadores parece tê-lo derrotado, o tributo permanece. Tarantino, agora também director de fotografia, invoca a ambiência da exploitation e do B-movie, típica dos anos 70 e pautada por temas que parecem ganhar o estatuto de clássico logo após o visionamento, mas simultaneamente torna-o intemporal. Até porque se a acção do filme é toda ela passada no presente, tal parece ser contrariado na segmentação narrativa e aparentemente temporal das duas porções de história, unidas pela presença ameaçadora de Kurt Russell num papel que o actor junta a um rol de personagens iconográficos como Snake Plissken e Jack Burton. Stuntman Mike é um fetichista da velocidade e do perigo da estrada, transportando o libido distorcido e doentio para acções brutais contra o sexo oposto, nas quais parece obter gratificação ilimitada. A cruel visceralidade das acrobáticas cenas de estrada, magnificamente compostas por um realismo exacerbado, contrastam com o encanto pelo Feminino que parece querer mover toda a acção. As mulheres, especialmente Vanessa Ferlito/Butterfly e Sydney Tamiia Poitier/Jungle Julia, parecem por breves momentos de mágica sedução não ter lugar no mundo real.

Death Proof não só é um filme que só poderia surgir agora na carreira de Tarantino, como que um espontâneo desvio cuidadosamente planeado e encenado com cenas de instantânea antologia, é também uma obra que só poderia surgir agora. Na sua forma autónoma de realização, assume um carácter de emancipação e de liberdade cinematográfica que parece revelar-se quase ocultamente enquanto um objecto de puro mas controlado delírio criativo, sem prisões narrativas e movido apenas pela veneração da imagem não só como o condutor mas enquanto o próprio meio. Será que na ilusória retrospectiva do passado se adivinha um novo futuro?

17.7.07


Esperava-se muito de Death Proof,mais não fosse pelo nome e currículo do seu realizador. Tarantino, o mais original dos “novos” cineastas americanos, sempre soube conjugar o legado dos mais diversos géneros underground e enriquecê-los com uma vida própria, de tal forma que no meio da profusão de citações era sempre possível identificar em qualquer personagem ou situação por ele criada uma marca singular.

Do célebre diálogo sobre o significado da canção Like a Virgin de Madonna (Reservoir Dogs) à sublime sequência da morte de Bill (Kill Bill), passando por uma das mais adultas e comoventes história de amor que já se contou (Jackie Brown), Tarantino foi sempre o cineasta da reinvenção, da explosão de criatividade e nunca o mimo recreador de tardes passadas em frente de um televisor de clube de vídeo que muitos injustamente o acusaram de ser.

Infelizmente, Death Proof parece querer provar o ponto dos críticos militantes de Tarantino. De facto, estamos perante pouco mais que uma colagem de citações, errática e cansativa na sua vacuidade, onde os maneirismos visuais onanistas sobrepostos a diálogos gratuitos tomam o lugar das personagens. Na ausência do mais tímido esboço credível de narrativa, salvam-se por comparação o divertido “boneco” de Kurt Russell e uma eficaz sequência de perseguição final, deixando no entanto a obra muito longe da redenção.

No meio de todo o espalhafato e esbracejar, Death Proof é um nado morto, tomado por uma preguiça e diletância generalizada. Aguarda-se pois um urgente regresso de Tarantino com uma retumbante prova de vida cinéfila.

16.7.07

Criterion em Julho

Este mês compra-se tudo...com destaque para a box Teshigahara. Detalhes das edições:
Ace in the Hole de Billy Wilder
Ivan's Childhood de Andrei Tarkovsky
Les Enfants Terribles de Jean-Pierre Mellville
Three Films by Hiroshi Teshigahara (Woman in the Dunes, Pitfall, The Face of Another)

8.7.07

Crónicas Cinematográficas de Verão


É Verão. O calor aumenta, o cansaço acumula-se e em cinema apetece ver um bom blockbuster de acção ou aventura. Filmes essencialmente de entretenimento (uma vocação de sempre da 7.ª Arte) com boas ideias de cinema. Dir-se-ia, para abreviar, que apetece ver um grande «filme de Verão». E como a história do Cinema está repleta de geniais e memoráveis «filmes de Verão»…

Foi com isto em mente e o calor em fundo que me desloquei à sala de cinema mais próxima para ver «Live Free or Die Hard», o filme que marca o regresso do mítico John McClane. É verdade que o trailer não augurava nada de especialmente memorável (mas quantas vezes nos surpreendemos?). Também é verdade que Len Wiseman não é um autor como John McTiernan (mas Renny Harlin também não é e não é por causa disso que «Die Hard 2» deixa de ser um grande filme). E é igualmente verdade que na sua génese os filmes com John McClane são mais filmes de Natal do que filmes de Verão (mas essa é outra conversa…).

É verdade tudo isso. Mas nada melhor – pensei eu – do que reencontrar uma velha personagem de infância e o transbordante carisma de Bruce Willis (talvez a última grande star do cinema de acção norte-americano). Pensei mal! Nada pior e mais deprimente do que isto! Chega a ser confrangedor observar John McClane (uma apagadíssima sombra daquilo que foi) a passear-se pelas mais enfadonhas cenas de acção que se podem imaginar, ao sabor de um argumento tão patético que só encontra paralelo no inacreditável vilão escolhido. Como se já não bastasse, deparamo-nos também com uma total ausência de base dramática, quer no plano geral quer no plano familiar: John McLane parte em salvação da filha como se estivesse à procura do gato da vizinha do lado; e se o caricatural e unidimensional «mundo» deste filme está em risco, então apetece ser Snake Plissken – sobretudo do «Escape From L.A.», um fabuloso «filme de Verão» – por um dia e mandar tudo pelos ares!



Uns dias antes, eu e vários membros deste blog tínhamos ido à antestreia do «Transformers», programado para passar em projecção digital (factor mais atractivo do que o filme em si). Sucede, no entanto, que a mestria técnica da Lusomundo colocou os espectadores perante um profundíssimo dilema existencial (que jamais pensaria que me fosse colocado numa sala de cinema): a) ou assistem à magnífica projecção digital de «Transformers»… sem som; b) ou (alternativa fascinante) podem usufruir em pleno do som do filme se optarem por assistir à projecção da cópia normal, meticulosa e competentemente desfocada! É claro que «abandonar de imediato a sala» seria sempre uma prometedora terceira opção, mas o peso da inércia fez-nos permanecer sentados a observar as diligentes tentativas da Lusomundo para estabelecer uma quarta e inesperada opção: ver o filme em projecção digital e com som! Nada feito. Após 4 ou 5 tentativas de projecção digital (todas sem som, à excepção de uma em que pudemos ver o genérico do filme ao som da rádio que servia de música ambiente do Cinema) foi-nos imposta a fascinante opção b).

De modo que ver o novo filme de Michael Bay (este sim, ao contrário de Len Wiseman, um verdadeiro autor… apesar de fraquinho) devidamente desfocado foi o nosso destino. O interesse que poderia residir neste filme estaria à partida na possibilidade de recriar em cinema uma mítica série de infância (de novo a infância como desculpa). E a verdade é que durante uma boa parte da sua duração, «Transformers» estava a ser bom entretenimento, com uma gestão minimamente controlada da acção, uma veia cómica interessantíssima e um lado humano minimamente composto. Mas depois o filme descontrola-se, dramatiza-se artificialmente e, enfim, perde coerência e consistência. A projecção, essa, manteve uma coerência e consistência inabaláveis: sempre certeiramente desfocada. Eis a era digital, segundo a Lusomundo (em rima perfeita com
isto).

Resumindo e concluindo: estão difíceis estes tempos de Verão…

1.7.07

Edward Yang (1947-2007)