31.10.07

Rescue Dawn

Eis um filme sonolento. E aborrecido. E que não tem nada de novo. O melhor é a interpretação de Christian Bale. O pior é quase tudo o resto.

A narrativa até pode ser interessante, mas a forma como é filmada não consegue transmitir isso. Poder-se-ia argumentar que poderiam ser feitos cortes, de modo a que esse sentimento de sonolência não se manifestasse tanto. Porém, parece-me que se isso acontecesse, seriam cortados momentos que contribuem para a caracterização da personagem principal (mas considerando bem... se calhar nem era uma coisa assim tão má, já que o filme não pderia ser muito pior do que aquilo que é).

A realização é competente e banal. As interpretações secundárias também, e não fora o argumento absolutamente aborrecido, até poderia ter sido, no mínimo, um filme agradável. Até porque acredito que o documentário em que Herzog baseou este filme (documentário esse também realizado por si) seja interessante.

Agora o filme? Um bocejo de duas horas, em que se sente cada minuto...

19.10.07

The Brave One


Notável filme com uma Jodie Foster Enorme!

Jordan trilha as ruas de Nova Iorque, filmando a brutalidade seca e real, numa obra dominada pela violência e pela imagética da mesma, perpassada por um desencanto desesperadamente sóbrio.

Erica Bain revolta-se contra a brutalidade? Vinga-se da perda do objecto amado? Não, Jordan não deixa margem para equívocos. Erica reage à perda da identidade, à impossibilidade de Ser Erica sem David. “I miss who I was with him”. Acorda sem mundo, sem referências, apenas com as memórias do que foi mas que jamais voltar a ser.”The dead don´t talk, at least not to me”. A violência, reactiva, viciante surge como único preenchimento do vazio, numa busca(?) por um inexistente sentido, ponto de apoio ou resposta.

A violência como concretização da abjecção máxima servindo de contraponto à abstracção formal limite: a ausência de tudo.

Filme do e para o seu tempo, obra fundamental de 2007, The Brave One é uma anti-catarse culminando num plano final que reflecte especularmente o final de The Searchers*.

* Que me perdoem os mais ortodoxos esta pequena heresia.

A Goddess to Remember

Deborah Kerr (1921-2007)

14.10.07

Orgulho e Preconceito

Em 2006, estrou nas salas portuguesas mais uma adaptação do romance de Jane Austen (do qual eu me confesso, desde já, fã) Orgulho e Preconceito. Eu, que já tinha visto (e revisto várias vezes) a mini-série da BBC, e que (até hoje) a considero a melhor adaptação da obra, senti-me ofendida e insultada com o filme, que a trata de uma forma... vil.

Tendo já confessado o meu amor à mini-série da BBC, e o meu desprezo pela adaptação conematográfica, tinha jurado considerar a primeira como a adaptação definitiva. Até ontem. Ontem vi a adaptação feita em 1940, interpretada por Laurence Olivier e Greer Garson. Apesar de serem omitidas largas partes do livro (limitações temporais a isso obrigam), é uma boa adaptação, que contém o essencial da narrativa, e que dá forma e dimensão às personagens. Olha-se para o ecrã, e vêem-se pessoas com emoções, dúvidas, alma...

Sempre pensei que ninguém interpretaria melhor o Mr. Darcy que Colin Firth. Mais uma vez, dou a mão à palmatória. Laurence Olivier é absolutamente soberbo na encarnação do personagem. Já Greer Garson perde em comparação a Jennifer Ehle (a Elizabeth, da mini-série da BBC), mas é bem superior a Keira Knightley. Porém, existe uma abundante (e importante) química entre os dois, o que faz com que todo o enredo seja credível, já que, mesmo quando não estão presentes no ecrã, se sente (como deve ser) a sua presença.

O elenco secundário (que inclui nomes como Edna May Oliver, Edmund Gwenn, Maureen O'Sullivan, Ann Rutherford), encabeçado por uma hilariante Mary Boland (num papel tão genial como aquele que interpretou um ano antes em The Women, de Cukor) é também ele tri-dimensional (ou seja, não serve só de pano de fundo, as personagens são também cheias de emoções e problemas), bem trabalhado, e credível.

Quanto à realização... não tem quaisquer pretensões de grandeza, ou de qualquer outra coisa. E precisamente por isso sai benificiada. Há intimismo quando este é necessário, e em cenas mais complexas, nomeadamente nas de grandes multidões, como festas e bailes, é ao mesmo tempo simples e intrincada, dando a um só tempo, várias perspectivas do mesmo evento. Não há nada dos abomináveis, pomposos e inúteis planos da adaptação escabrosa de Joe Wright, graças a deus. Há apenas um tratamento simples e pessoal de todas as relações e situações, daí que consiga a aura de um grande filme, que decerto irá ser alvo de vários revisionamentos da minha parte.

Antes de ver o filme, não pensei ir dizer que gostei quase tanto como da mini-série. Aliás, quer-me parecer que esta foi largamente inspirada neste, notam-se muitas semelhanças, e só a considero melhor porque, como tem mais tempo (derivado do meio de exibição, obviamente), é mais completa como adaptação. Depois deste visionamento, surge apenas um problema... o meu preconceito relativamente a outras adaptações desta obra aumentou. Duvido que qualquer outra seja tão boa como estas duas...

6.10.07

Les Chansons d'Amour

Depois do (e durante o) visionamento do novo filme de Christophe Honoré, a maior sensação que me invadiu foi de alívio. Isto porque, depois de lidas alguns artigos sobre o filme, esperava um musical completo. Ou seja, apenas música, sem diálogo falado. O que para mim (e atenção, eu sou uma grande defensora de musicais!!) é um pouco demais. Quando me apercebi que não era este o caso, pude apreciar o filme ainda mais.

Não me é fácil explicar o porquê de ter gostado tanto assim deste filme. Como musical, é no mínimo, surpreendente. Se bem que espelhe um final onde se projecta alguma esperança, é talvez o mais duro e amargo musical que alguma vez vi. Como drama (apesar de ter alguns momentos mais leves, cómicos, mesmo, no fundo é mais drama que comédia) é igualmente surpreendente, devido ao elevada presença de números musicais (se bem que isso para mim, pessoalmente não seja qualquer problema, que fique bem claro!).

É um facto que está bem realizado. É um facto que as interpretações são excelentes, especialmente as de Louis Garrel e Chiara Mastroiani; ele mais explosivo, ela incomodativamente contida, cada um a sofrer, e a querer superar à sua maneira a perda de Julie (Ludivine Sagnier). É um facto que a banda sonora de Alex Beuapain (que já tinha proporcionado um dos melhores momentos de "Dans Paris") é extraordinária. É mesmo a melhor coisa do filme (uma boa banda sonora de um musical sustém-se a si mesma, não precisa do filme para fazer sentido, e isso acontece aqui), pontuando os momentos mais emocionais da melhor forma. Só o argumento podia ser melhor, mais consistente, porque se notam alguns desiquilíbrios entre as duas partes demarcadas no filme.

O mais importante de tudo é que o filme me fez vivê-lo. Fez-me viver os dilemas das personagens, fez-me rir com elas, fez-me chorar com elas, fez-me sentir o desespero delas, as suas motivações, as suas dúvidas... e finalmente; a sua evolução, não vista, mas antes percepcionada.

É isto que eu espero num filme. É por isso que, apesar da (para mim, mínima) deficiência do argumento, "Les Chansons d'Amour" é, para mim, um dos bons filmes que sobressaem neste ano que tem sido tão fraco...

3.10.07

Festa do Cinema Francês


Inicia-se hoje no Cinema São Jorge pelas 21h a 8ª Festa do Cinema Francês. O filme de abertura é "Les Chansons d´Amour", musical inspirado nas fitas de Jacques Demy, realizado por Christophe Honoré e produzido por Paulo Branco. Honoré estará presente na sessão.

Depois do perturbante "Ma Mére" e do magnífico e comovente "Dans Paris", espera-se o melhor desta obra que irá estrear nas salas portuguesas já a 18 de Outubro. Aqui fica um dos momentos musicais do filme para aguçar o apetite.



2.10.07

Promissores

A nossa sorte é que os meses que aí vêm parecem bem mais interessantes do que aqueles que passaram:

Paranoid Park, de Gus Van Sant
Lions for Lambs, de Robert Redford
We Own the Night, de James Gray
The Darjeeling Limited, de Wes Anderson
Lake of Fire, de Tony Kaye
Youth Without Youth, de Francis Ford Coppola
Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, de Tim Burton
Eastern Promises, de David Cronenberg
Redacted, de Brian De Palma
There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson
Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, de Steven Spielberg
The Happening, de M. Night Shyamalan