9.2.09

Slumdog Millionaire


Cada vez mais se sente que os Óscares e toda a temporada de prémios que os antecipam são nada mais que um mero concurso de popularidade, que pouco visa a qualidade das obras propostos. O filme com mais prémios ganhos e mais buzz é naturalmente o eleito e perde-se totalmente o intuito da própria diversificação da premiação com Slumdog Millionaire a assumir-se enquanto coqueluche do ano, destinando-se assim a ganhar o Óscar de Melhor Filme no próximo dia 22 de Fevereiro. Conta a história de um jovem muçulmano, feito órfão em terna idade e obrigado a viver numa favela do Mumbai com o irmão que mais tarde se transforma num criminoso de rua. Jamal no entanto sonha apenas com um dia reencontrar a rapariga que com eles cresceu e ao tornar-se num afamado candidato ao prémio máximo do concurso Quem Quer Ser Milionário, espera assim cumprir o seu destino.

É com um extremo travo de desilusão e alguma resignação com que se vê este filme de Danny Boyle, com o intuito inicial de alguma consciencialização, a transformar-se numa história de amor de novela juvenil e com uma total nulidade de ressonância dramática. Tudo em Slumdog Millionaire é superficial, desde a execução vistosa mas cansativa do realizador ao carácter meramente decorativo das personagens e dos actores que a interpretam, mas sobretudo a forma como o enredo se vai descortinando, sempre mecânica, redutora e sem qualquer encanto ou deslumbramento. Chega a ser chocante a visão maniqueísta como Boyle explora a pobreza da Índia e dos seus mais desafortunados habitantes no intuito de uma reacção imediata por parte do espectador, um recurso aviltante e cobarde de aproximação do mesmo à história e que prova que hoje em dia parece ser admissível apelar à mentira, desde que provoque um sentimento efusivo de (falsa) exaltação. Cortes rápidos, música intrusiva e uma quantidade quase insultuosa de melodrama sintético tornam-se cruciais para tornar a experiência mais prazenteira.

Torna-se difícil de acreditar que um filme descartável e indigente como este irá perdurar até na memória dos seus fãs actuais mais acérrimos e se daqui a um ano, e passado todo este entusiasmo postiço, alguém defenderá que Slumdog Millionaire merece figurar no capitulo de história cinematográfica do ano que passou. Enquanto isso assistimos à celebração da mediocridade em prol da solidarização global. That’s showbusiness.

1 comment:

Amarante, Tiago said...

Eu penso que te desviaste um pouco do que neste filme fora realmente relevante. Na minha opinião, não se trata de algo superficial, até porque o realizador acaba por explorar a crença no destino e fascina o espectador com uma historia de amor invulgar.
De facto, penso que o que se pretende num filme é algo invulgar, que nos faça sentir uma panóplia de sentimentos e que nos dê algo para acreditar. O Slumdog Millionaire é merecedor de todo o mérito que recebeu até agora. Mesmo eu não partilhando a crença transmitida pelo realizador acabei por adorar o filme.
Acerca da sua extrema desilusão no que toca a forma como o realizador transforma uma consciencializaçao inicial numa "história de amor juvenil", só tenho algo a dizer, que é o seguinte... Caso isto se tratasse de uma consciencializaçao sem qualquer enredo, eu não estaria a ver um filme, mas sim um documentário.
Cumps.