Piores do Ano (João Eira)
Assalto e Intromissão (Breaking and Entering)
Minghella ganhou o Óscar ao terceiro filme que fez, o épico romântico The English Patient, revivalismo menor do cinema de grande espectáculo dos anos 60, a espaços belíssimo e comovente. Desde então tornou-se especialista em transformar tudo o que toca em pastelaria massuda, seca e com propriedades suporíferas inusitadas. O seu trabalho deste ano acrescenta aspectos que o constituem como um tratado de lixo politicamente correcto pronto a servir, versando temáticas como a comunicação entre culturas e a emigração. Vem, claro, disfarçado de drama urbano e moderno para que as classes médias educadas do mundo ocidental globalizado se sintam devidamente aconchegadas.
O Último Rei da Escócia (Last King of Scotland)
Não há ano que passe também sem o filme do complexo de culpa sobre a situação em África. Este retrato do ditador ugandês Idi Amin Dada é tão fraquinho que o que fica nem sequer é o habitual olhar paternalista sobre o continente, mas o trinómio da realização de pedreiro, direcção de actores inexistente e de um esboço de narrativa tão débil que só se faz notar pela adulteração de aspectos históricos factuais.
Encurralados (Half Nelson)
Uma das muitas trapalhadas indie que fazem o furor em certas “comunidades artísticas”. A temática fascinante deste filme é a nulidade da vida de alguém que faz tudo para ser… uma nulidade. Não espanta assim que a aclamada interpretação de Ryan Gosling se limite a uma deambulação pelos cenários do filme. No entanto, e para que o espectador não fique com dúvidas sobre a seriedade da coisa, há muitas imagens de bandeira americanas, intervenções do presidente Bush e uns inserts irritantes de criancinhas a recitar artigos da constituição americana. Afinal havia mensagem! A relação com o resto? Nenhuma, mas certamente estaremos perante mais um dos retumbantes méritos que me passaram ao lado…
O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno)
Maniqueísmo de alcova, usa uma historieta de fantasia amadora para mostrar como os maus são mesmo maus e os bons são sempre bons. Narrativamente inconsequente, visualmente grotesco, ideologicamente aviltante, é forte candidato a filme mais repugnante do ano.
O Caimão (Il Caimano)
Nani Moretti é o menino querido da esquerda europeia e um cineasta com talento. Mas aqui espalha-se ao comprido, quando cede ao mais fácil populismo que pretende criticar e apresenta um Berlusconi ridiculamente cartoonesco. Seria tolerável, não fosse o facto de o filme se levar(muito) a sério.
300 (300)
“O cinema do futuro”, proclamam alguns. Se isto é o futuro, então prefiro viver no passado. A prova de que a tecnologia não serve para nada quando se tem um bruto na realização. Rodriguez tem a mesma subtileza dos guerreiros espartanos, mas o Xerxes amaneirado de Rodrigo Santoro merece a gargalhada do ano.
Sunshine - Missão Solar (Sunshine)
Danny Boyle volta a não desiludir, agora no território de super produção. Cheio de efeitos de câmara da estirpe “olha que esperto que eu sou” e metáforas adolescentes e com um sentido de espectáculo de um padre da Opus Dei, Boyle continua o seu caminho de cineasta irrelevante que não vai a lado nenhum.
Shortbus
Mais um darling indie, consagrado em tudo quanto foi festival. Um filme que aposta na aberração como um conceito de cinema. Começa com uma pirueta auto ejaculatória, passa por um threesome homossexual, mas, sejamos justos, não esquece o lado hetero e também somos bafejados com umas cenas de sexo explícito entre uma chinesa frígida e diversos parceiros. Que em complemento apenas sejam servidas umas quantas frases pomposas, disfarçadas de diálogos existenciais, não parece incomodar quem cauciona como arte esta pornografia de sarjeta.
Piratas das Caraíbas nos Confins do Mundo (Pirates of Caribeean 3)
O blockbuster do ano consegue arrastar por 3 horas(!) um completo vácuo de ideias, personagens ou narrativa. Já nem Johnny Depp salvo o barco do naufrágio. Volta Errol Flynn!
Hostel 2 (Hostel: Part II)
Quando a exploração gratuita da humilhação humana para fins meramente comerciais de promoção de um produto, como se da venda de um detergente ou um chocolate se tratasse, atinge a depuração deste Hostel 2, é razão para questionarmos se merecemos a designação de animais racionais.
Next – Sem Alternativa (Next)
O argumento queijo suíço do ano, temperado pela peruca de Nicholas Cage e por um final que gera tal incredulidade que é preciso rever para acreditar. Talvez o facto de descobrirmos no fim que mais de metade do que vimos era apenas um sonho seja a forma de Tamahori admitir que o seu filme não tem ponta por onde se lhe pegue.
Um Coração Poderoso (A Mighty Heart)
Telefilme filmado em estilo documental-verité, onde Angelina Jolie passeia o seu sotaque (é sempre o mesmo faça ela de francesa, grega ou de monstro CGI) durante 2 horas, numa obra cuja temperatura é um constante zero absoluto. Não existe vida possível nesta secura de personagens ou visão de qualquer tipo.
O Reino (The Kingdom)
Logo no genérico o cheiro a podre invade a sala, quando levamos com um power point de história para atrasados mentais. Mas a coisa piora, pois o filme alia a uma visão estereotipada de tudo (sem excepção) o que mostra a realização de Peter Berg, um verdadeiro manual de como não filmar.
Eles (Ils)
Terror francês baseado em factos reais. Amador é a única palavra que me ocorre em relação a este filme.
Corrupção
Numa sala cheia os espectadores, lisboetas e a maioria certamente não portistas, saíam dizendo “o pior filme que já vi” e outros epítetos que tais. O êxito do filme talvez venha comprovar que o espectador português não procura propriamente um bom filme quando vai ao cinema, mas outras coisas. É difícil escolher por onde pegar em Corrupção, mas talvez o contraste entre o pretensiosismo do tom declamativo dos personagens e a piroseira da banda sonora e de alguns diálogos seja o que torna este objecto verdadeiramente único.
Zidane, um retrato do Século XXI (Zidane, un portrait du 21e siècle)
Zidane filmado de todos os ângulos possíveis e imaginários (parece que foram doze câmaras), complementado com frasezinhas bonitas e um noticiário ao intervalo é o que há para oferecer aqui. Alguém disse que isto era o “ocaso do próprio cinema, como a grande arte do século XX”. Eu acho que se houver juízo, isto será sim o ocaso da dupla de autores como cineastas, pois que ninguém com juízo voltará a deixar estes senhores tocar numa câmara e muito menos investir o seu precioso dinheirinho em coisas destas. Claro que há sempre uns ministros da Cultura prontos a brincar com o dinheiro dos outros, mas isso são outras conversas.
Control
Pose, tratamento tonal a preto e branco exemplar e banda de referência para uma geração. Ingredientes para um filme de culto. Mas, e cinema?
Hot Fuzz - Esquadrão de Província (Hot Fuzz)
A patetice do ano. Na ânsia de ridicularizar para sacar gargalhada, colecciona estereótipos e consegue a proeza de falhar o timing cómico em todos os gags. Dormi uns bons dez minutos lá para o meio, coisa que nunca me aconteceu num filme de Michael Bay.
Peões em Jogo (Lions for Lambs)
A grande desilusão do ano. Redford acordou chateado e sacou um valente berro contra a indiferença. Mas ficou por aí e Lions for Lambs não passa de um inconsequente, primário e manipulador conjunto de clichés, convocando uma seriedade e uma pretensão de revolta contra o status quo, para a qual não oferece suporte dramático. Na ânsia da propaganda ficaram por dimensionar personagens, situações, realidades. Fica o panfleto político, mas, nessa área, o Bloco de Esquerda é bem mais eficaz.