A peça a mais
Era, à partida, um filme de risco. Il Caimano, no entanto, recupera a tradição da comédia popular italiana, injecta-lhe inteligência político-social, tempera-a com uma honesta revisão do melodrama familiar, e quase sem que nos apercebamos constrói, em surdina, um eficaz fresco da Itália de Berlusconi, questionando mais o desnorte dos italianos (na tão hilariante quanto intrigante personagem do produtor) do que a megalomania do seu dirigente.
Pena que Moretti, na recta final e após uma magistral sequência de cinema, escolha personalizar o seu ódio já público a Berlusconi e vista ele próprio a pele do caimão, destituindo o filme, em poucos minutos, de uma vitalidade e de uma panorâmica mais global que até então, apesar de desequilíbrios narrativos e de momentos cómicos a oscilar entre o inspirado e o excessivamente histriónico, conseguira ter.
Il Caimano, afinal, é um filme político em todos os segundos da sua duração, mesmo quando Berlusconi não surge ilustrado ou em pessoa no écran - é-o no sentido em que os destinos que as vidas tomam são irremediavelmente contaminados pelo cenário em que evoluem, pelas decisões ou indecisões colectivas que afectam cada indivíduo em particular, podendo mesmo, em última instância, corroer o núcleo familiar - é esta a faceta mais rica do filme, aliás. Moretti compreende-o na perfeição, sendo por isso de lamentar o seu grito final, sublinhado a traço grosso, concretizando algo a que a abstracção conferiria um muito mais interessante desfecho. Não resistiu a deixar o seu Lego por completar...
Pena que Moretti, na recta final e após uma magistral sequência de cinema, escolha personalizar o seu ódio já público a Berlusconi e vista ele próprio a pele do caimão, destituindo o filme, em poucos minutos, de uma vitalidade e de uma panorâmica mais global que até então, apesar de desequilíbrios narrativos e de momentos cómicos a oscilar entre o inspirado e o excessivamente histriónico, conseguira ter.
Il Caimano, afinal, é um filme político em todos os segundos da sua duração, mesmo quando Berlusconi não surge ilustrado ou em pessoa no écran - é-o no sentido em que os destinos que as vidas tomam são irremediavelmente contaminados pelo cenário em que evoluem, pelas decisões ou indecisões colectivas que afectam cada indivíduo em particular, podendo mesmo, em última instância, corroer o núcleo familiar - é esta a faceta mais rica do filme, aliás. Moretti compreende-o na perfeição, sendo por isso de lamentar o seu grito final, sublinhado a traço grosso, concretizando algo a que a abstracção conferiria um muito mais interessante desfecho. Não resistiu a deixar o seu Lego por completar...
1 comment:
Vi o filme e gostei muito. A história dos factos políticos sobejamente conhecida e o drama pessoal cheio de verosimilhança entrelaçam-se com mestria, num conjunto muito bem construído. É um filme imperdível de onde se podem tirar lições válidas para um contexto que ultrapassa a Itália (a Itálizinha, como se diz no filme!)
Subscrevo inteiramente a ideia de que a última peça está a mais ...
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