6.3.10

Alice Já Não Mora Aqui...


Tim Burton é, hoje em dia, mais popular que nunca. Aquele rebelde que edificava estranhos mundos e histórias que só eram apreciados e aclamados por alguns é, desde Big Fish, o mais recorrentemente mencionado cineasta na praça pública. Basta olhar para os números das bilheteiras para este fim-de-semana nos Estados Unidos e também no nosso país para perceber que o toque Burton passou de um pequeno fenómeno a uma marca globalizada. Mas se há realizadores que sabem gerir e simultaneamente a arte e o êxito – basta olharmos para a carreira de Steven Spielberg – há outros que parecem perder o Norte e aquilo que os tornou singulares e tão prezados. Tim Burton parece estar a chegar a um ponto em que tem de se radicalizar a si próprio ou arrisca ver o seu legado acabar muitíssimo mais cedo do que previsto.

Alice in Wonderland é uma adaptação livre dos dois livros de Lewis Carroll, uma história surrealista e encantatória sobre uma menina que se refugia num mundo de maravilhas e alguns horrores, repleta de personagens riquíssimas e bizarras que também elas têm muito para contar. Um onirismo transcendente como significante mecanismo de maturação pessoal e psicológico. Agora vemos uma Alice mais velha, sem memória do vivenciou em criança, preparada para casar mas novamente segue o Coelho Branco e entra neste universo que ela julga agora ter construído. Mas tudo parece diferente.

E é-o. É quase impossível descobrir o mundo fantástico e alucinado de Carroll aqui, numa tentativa declarada de Tim Burton de torná-lo mais identificável e acessível. Para trás fica a alma do texto original e da sua própria marca autoral enquanto realizador. Este universo é completamente indistinto, seguindo a fórmula já cansada dos filmes de fantasia pós-Senhor dos Anéis. Para alguém que de raiz criava cosmos inteiros de demência gótica, a dimensão visual deste filme é tão densa ou peculiar quanto tudo o que já se viu nas Crónicas de Nárnia e seus derivados.

Desta forma, e pelo argumento absolutamente inconsequente que traça, trai todas as personagens do conto de onde foi beber inspiração, tirando-lhes toda a vida e reduzindo-as a meros peões serviçais de um enredo patético e incongruente. É logo de notar que o maior protagonismo deste filme é dado, não à sua personagem principal, interpretada por uma Mia Wasikowska com potencial aqui desperdiçado, mas a Johnny Depp no papel de Chapeleiro Louco. Depp, actor exímio que mostrou recentemente uma grande interpretação em Public Enemies, parece agora condenar-se a repetir variações da mesma caricatura desinspirada e sonolenta com aquele já que foi o seu maior aliado. A própria Helena Bonham Carter, a única que mostra alguma capacidade de transfiguração, cedo se cansa do seu retrato vazio.

Tudo aqui é tristemente inócuo e desprovido de qualquer significado narrativo ou meramente visual. No final tudo se resume a uma batalha igual a todas as outras, sem provocar qualquer mudança em nenhum dos seus intervenientes, Alice incluída. Esta passagem pelo buraco de coelho deixou-a exactamente igual a como entrou, ainda que o final de inspiração desonesta queira fazer crer em contrário. E este filme de Tim Burton é igualmente esquecível, incapaz de conjurar uma imagem ou momento que perdurem para além do final do visionamento. Algo que se está a tornar demasiado expectável no percurso do realizador. Mas para quem afirma que em Alice in Wonderland vemos o cineasta de forma automatizada e desinteressada, tal não podia ser menos verdade: Tim Burton não está aqui de todo.

NOTA: Evitar a projecção 3D a todo o custo. É muito fácil perceber que de facto não foi concebido de raiz para ser visto desta forma, reduzindo-se a um trabalho de pós-pós-produção preguiçoso e ganancioso.

2.3.10

John Ford, o poeta-pintor






* «Drums Along the Mohawk» (1939)

25.2.10

O Horror do Esquecimento



«Pensarei nesta história como o horror do esquecimento» (in «Hiroshima Mon Amour»)

9.2.10

2009 - João Pedro Jorge

Mais uma vez, Clint Eastwood matou a
concorrência com duas obras-primas maiores


Estreias em sala em 2009

1- Gran Torino Clint Eastwood
2- Changeling Clint Eastwood
3- Inglourious Basterds Quentin Tarantino
4- Public Enemies Michael Mann
5- Two Lovers
James Gray
6- The Wrestler Darren Aronofsky
7- Aruitemo aruitemo [Still Walking] Hirokazu Kore-eda
8- Un Prophète Jacques Audiard
9- The Curious Case Of Benjamin Button David Fincher
10- The Hurt Locker Kathryn Bigelow

11- Che Steven Soderbergh
12- The Limits Of Control Jim Jarmusch
13- Låt den rätte komma in [Let The Right One In] Tomas Alfredson
14- Afterschool Antonio Campos
15- Les Plages D'Agnès Agnès Varda

16 - Eden Lake James Watkins
17 - Up Pete Docter
18 - Moon Duncan Jones
19 - Gake no ue no Ponyo Hayao Miyazaki
20 - Revolutionary Road Sam Mendes

Inéditos em sala em 2009

1- A Serious Man Joel e Ethan Coen
2- Antichrist Lars von Trier
3- The Bad Lieutenant: Port Of Call - New Orleans Werner Herzog
4- La Belle Personne Christophe Honoré
5- (500) Days Of Summer Marc Webb
6- Up In The Air Jason Reitman
7- The House Of The Devil Ti West
8- The Box Richard Kelly
9- Black Dynamite Scott Sanders
10-El Secreto De Sus Ojos Juan José Campanella

6.1.10

Melhores de 2009 (João Ricardo Branco)


1. The Curious Case of Benjamin Button (David Fincher)
2. Gran Torino (Clint Eastwood)
3. Two Lovers (James Gray)
4. Inglourious Basterds (Quentin Tarantino)
5. The Wrestler (Darren Aronofsky)
6. Redbelt (David Mamet)
7. The Hurt Locker (Kathryn Bigelow)

2009 não foi propriamente um ano com muitos filmes memoráveis (eis a razão por que me fiquei por um TOP7), mas pelo menos os quatro primeiros da lista estão entre o que de melhor se fez ao longo da década.

Se o Cinema é a Arte da memória e o Acto de preencher com imagens o vazio que carregamos dentro de nós, então só «The Curious Case of Benjamin Button» poderia ser o meu filme de 2009, pois não houve em todo o ano obra que me tenha preenchido tanto ou que me tenha gravado tantas e tão boas memórias. Memórias das imagens projectadas no grande ecrã e memórias do acto de ser espectador nas três vezes que vi o filme em outras tantas salas de Cinema.

A minha preferência pelo filme é, pois, essencialmente de ordem afectiva. Mas há também razões eminentemente cinematográficas que justificam em pleno esta escolha. Por exemplo: o modo como David Fincher, no auge da sua maturidade artística, erige um verdadeiro e intemporal colosso narrativo feito de imagens em que o plasticamente belo se dilui numa delicada teia de emoções, sempre harmoniosamente em crescendo até ao arrebatador final; a perfeição técnica de todos os elementos essenciais; a forma como a depuração das imagens e a sublimação do acto de realizar nos devolve esse lado primordial de exaltação do Cinema pela história, como no grande Cinema clássico; a inesquecível interacção entre Pitt e Blanchett, quase milagrosos em todas as cenas em que contracenam…

Nota ainda para: «Gran Torino», o genuíno e comovente testamento cinematográfico de Eastwood; «Two Lovers», o triângulo amoroso que James Gray transforma em brilhante ópera trágica; e «Inglourious Basterds», a vibrante aventura de Tarantino sobre o poder explosivo do Cinema.

Melhores de 2009 (Paulo Albuquerque)

1 - Gran Torino de Clint Eastwood
2 - Public Enemies de Michael Mann
3 - Changeling de Clint Eastwood
4 - Still Walking de Hirozaku Koreeda
5 - Inglorious Basterds de Quentin Tarantino
6 - The Hurt Locker de Kathryn Bigelow
7 - The Strangers de Bryan Bertino
8 - The Wrestler de Darren Aronofsky
9 - Two Lovers de James Gray
10 - Ne Change Rien de Pedro Costa, Che de Steven Soderbergh, e La Mujer Sin Cabeza de Lucrecia Martel



Inéditos:
1 - City of Life and Death de Chuan Lu
2 - 24 City de Jia Zhang-Ke
3 - Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans de Werner Herzog
4 - House of the Devil de Ti West
5 - Ballast de Lance Hammer, Mother de Bong Joon-ho e À l'Aventure de Jean-Claude Brisseau



Albums:
1 - Thomas Köner - La Barca
2 - Mulatu Astatke & The Heliocentrics - Inspiration Information vol 3
3 - Olafur Arnalds - Found Songs
4 - Group Doueh - Treeg Salaam
5 - Camera Obscura - My Maudlin Career
6 - Zelienople - Give It Up
7 - Alasdair Roberts - Spoils
8 - 2562 - Unbalance
9 - Sunn O))) - Monoliths & Dimensions
10 - Leyland Kirby - Sadly the Future Is No Longer What It Was
11 - Grizzly Bear - Veckatimest
12 - Ben Frost - By the Throat
13 - V.A - 5 Years of HyperDub
14 - Animal Collective - Merryweather Post Pavillion
15 - Black Dice - Repo
16 - Richard Hawley - Truelove's Gutter
17 - Tim Hecker - An Imaginary Country
18 - Lightning Bolt - Earthly Delights
19 - Jasper TX & Anduin - The Bending Of Light
20 - Lhasa - Lhasa
21 - David Sylvian - Monafon
22 - Merzbow - Japanese Birds vol 7
23 - Madlib the Beat Konducta - Vol 5 & 6: A Tribute to Dil Cosby & Dil Withers
24 - Pissed Jeans - King of Jeans
25 - Alela Diane - To Be Still
26 - Lee Fields & The Expressions - My World
27 - Fever Ray - Fever Ray
28 - Zu - Carboniferous
29 - Pan Sonic & Keiji Haino - Shall I Download A Black Hole And Offer It To You
30 - Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures, Mika Miko - We Be Xuxa e The Sa-Ra Creative Partners - Nuclear Evolution: The Age of Love

5.1.10

Porquê Shyamalan?!



Eu gostava mesmo de estar expectante para isto, mas estes planos que parecem saídos de um Troy 2 com barcos CGI para encher o olho não prometem nada de bom...

3.1.10

Top 2009 (Nuno Gonçalves)


1 Gran Torino
Clint Eastwood
2 The Wrestler
Darren Aronofsky
3 Two Lovers
James Gray
4 The Hurt Locker
Kathryn Bigelow
5 The Curious Case of Benjamin Button
David Fincher
6 Redbelt
David Mamet
7 La Mujer Sin Cabeza
Lucrecia Martel
8 Aruitemo aruitemo
Kore-Eda Hirokazu
9 The Strangers
Bryan Bertino
10 Public Enemies
Michael Mann







Realização
James Gray (Two Lovers)

Interpretação Masculina
Mickey Rourke (The Wrestler)/ Joaquin Phoenix (Two Lovers)

Interpretação Feminina
Meryl Streep (Doubt/Julie & Julia)

Argumento
Aruitemo aruitemo

Fotografia
Public Enemies

Banda Sonora Original

The Curious Case of Benjamin Button

Revelação
Jeremy Renner (The Hurt Locker)