21.5.08

Banda sonora para filme sem imagens


I've always wanted the string quartet to be vital, and energetic, and alive, and cool, and not afraid to kick ass and be absolutely beautiful and ugly if it has to be. But it has to be expressive of life. To tell the story with grace and humor and depth. And to tell the whole story, if possible..."

David Harrington

Grande concerto o do Kronos Quartet, ontem no Centro Cultural de Belém!

Ao vivo, para além do virtuosismo técnico irrepreensível do quarteto (enquadrado num jogo de luzes majestosamente sóbrio), agora mais do que nunca um verdadeiro ensemble e não apenas um projecto liderado por David Harrington, confirma-se a altíssima carga cinematográfica da sua música, bem patente no facto de nem sequer terem sido ouvidos na noite de ontem os temas compostos por Clint Mansell para o Kronos em The Fountain e Requiem For a Dream e, ainda assim, se conseguir atribuir a cada peça imagens de um filme imaginário, de vários filmes!

Foi esse o principal trunfo do espectáculo - o Kronos Quartet é hoje uma força musical internacional, com compositores de todo o mundo constantemente a criarem obras específicas para o quarteto, e isso reflectiu-se ontem, com sonoridades dos Balcãs (...hold me, neighbour, in this storm... arrepiou no seu intimismo épico), do México ou da Índia a contaminarem um classicismo que, quando apresentado na sua forma mais pura (The Beatitudes, de Vladimir Martynov - que bem que esta música ilustraria um épico sentimental!), também deslumbrou. A presença de Rokia Traoré, outra sólida voz do prolífico Mali, combinou na perfeição com as cordas dolentes do quarteto, e provou que não há limites geográficos para a qualidade da sua música.

A juntar a esta transversalidade a nível do espaço, o Kronos também dominou na gestão do tempo, não apenas do tempo estritamente musical - veja-se a importância dada ao silêncio e ao virar das páginas das partituras nas peças apresentadas - mas também da própria evolução temporal dos géneros, irrompendo o experimentalismo entre momentos mais clássicos como no tema de John Zorn, ou sendo dado protagonismo às electrónicas ambientais de Amon Tobin noutro momento alto da noite. Um verdadeiro tubo de ensaio, portanto, em que espaço e tempo, físico e mental, se misturam num processo de constantes descobertas e reinvenções.

Só faltou mesmo a versão ao vivo de Death Is The Road To Awe, prometida em entrevista recente, mas após quatro temas em encore que culminaram com uma magnífica versão de Sigur Rós (!) atingiu-se um estado de encantamento que, coisa rara, conseguiu que o filme imaginado enquanto assistia ao concerto se prolongasse para além daquela sala, ecoando as suas imagens até...

[Fade out]

1 comment:

indigente andrajoso said...

não foram só 3 encores?