B...A...BA
Há umas semanas, li este texto que comentava um outro meu. Porque entretanto mudei de emprego e de País, ficando no interlúdio sem acesso à Internet, faltou a disponibilidade para responder.
Passado tanto tempo, não me daria a tal trabalho, não fossem as palavras de Domingues sintomáticas de uma de duas maleitas – ou incapacidade intelectual para compreender o que está escrito ou má fé. Como sou optimista, acredito que se tratou da primeira hipótese.
Embora contrariado, porque não tenho vocação para pedagogo, tenho então que explicar a Domingues, que nitidamente não percebeu o que escrevi. Pede-se aos leitores educados que passem ao post seguinte.
Lição nº 1 – Individual versus Colectivo
Como se pode facilmente constatar o Claquete é um blogue colectivo, quer isto dizer, um blogue onde escrevem vários indivíduos. Esses indivíduos não deixam de o ser por escreverem no Claquete. Ou seja, quando um deles assina um texto, esse texto e todas as suas causas e consequências pertencem a ele e não a qualquer outro dos indivíduos que também assinam textos no Claquete.
Portanto, o Claquete não “decidiu investir em favor de Charlton Heston”. Eu, João Pedro Barata da Eira, decidi. E também não seria para o Claquete, mas para mim, que:
“não achar Heston um actor excepcional é um acto de ignorância e desfaçatez política e de "double-thinking”."
No caso da citação anterior, como não escrevi isso, além da confusão entre individual e colectivo, a frase de Domingues enferma de um problema mais sério: citar de forma errada um texto e daí partir para a elaboração de um raciocínio assente em premissas falsas.
Passemos então à lição seguinte.
Lição nº 2 – Ler e Comentar
Quando se lê um texto, e se pretende comentar o mesmo, devem-se comentar os factos apresentados ou afirmações produzidas no mesmo. Não se deve atribuir ao autor do texto algo que ele não disse.
Assim, em lado nenhum eu escrevi que Charlton Heston era “um actor excepcional” mas sim que teve uma “carreira de competência e sucesso”. Se nunca disse que Heston foi um actor excepcional, muito menos poderia ter concluído que quem não achar tal comete “um acto de ignorância e desfaçatez política e de "double-thinking”".
Depois da atribuição falsa de afirmações e pensamentos, Domingues vira-se para a citação directa, tentando recorrer à ironia como forma de explicitar uma opinião divergente. Motivo para uma nova aprendizagem.
Lição nº 3 – A ironia versus a taberna
A utilização da ironia deve ser trabalhada, pensada e treinada. Se utilizada de forma preguiçosa, a acidez corrosiva da palavra é substituída pelo paladar desagradável da cerveja da taberna da esquina.
Assim, quando eu me refiro à intervenção cívica de Charlton Heston, talvez a maneira de tornar a resposta interessante não seja recorrer ao chavão de reduzir a sua personalidade e vida aos anos que passou como Presidente da NRA. Mesmo dando de barato que a questão do porte de arma pode ser vista a preto e branco, a vida pública de Charlton Heston fora da sua actividade profissional não se resumiu a isso. Talvez Domingues não o saiba, e nesse caso perdeu uma boa oportunidade para exercer o seu direito ao silêncio.
Lição nº 4 – Ler e Entender
Depois de repetir pela terceira ou quarta vez o pressuposto falso de que eu disse que Heston era um “actor excepcional”, Domingues passa a acusar-me de fazer politica rasteira e de utilizar Orwell para fazer crítica cinematográfica.
Acontece que em lado nenhum do meu texto faço crítica cinematográfica. Mais, não falo sequer de cinema, facto pelo qual tive até o cuidado de pedir desculpa aos meus colegas de blogue.
Fica assim mais um conselho: , não basta ler, é necessário entender. É verdade que, depois de entender, podemos passar a uma fase mais subjectiva que é interpretar, quando algumas passagens possam ser abertas a isso. Mas não vamos complicar, não só porque o meu texto não contém dessas passagens, mas também porque não quero tornar os conceitos demasiado inacessíveis a Domingues.
Meu caro Domingues, mais simples não consigo. Espero tê-lo ajudado!
Passado tanto tempo, não me daria a tal trabalho, não fossem as palavras de Domingues sintomáticas de uma de duas maleitas – ou incapacidade intelectual para compreender o que está escrito ou má fé. Como sou optimista, acredito que se tratou da primeira hipótese.
Embora contrariado, porque não tenho vocação para pedagogo, tenho então que explicar a Domingues, que nitidamente não percebeu o que escrevi. Pede-se aos leitores educados que passem ao post seguinte.
Lição nº 1 – Individual versus Colectivo
Como se pode facilmente constatar o Claquete é um blogue colectivo, quer isto dizer, um blogue onde escrevem vários indivíduos. Esses indivíduos não deixam de o ser por escreverem no Claquete. Ou seja, quando um deles assina um texto, esse texto e todas as suas causas e consequências pertencem a ele e não a qualquer outro dos indivíduos que também assinam textos no Claquete.
Portanto, o Claquete não “decidiu investir em favor de Charlton Heston”. Eu, João Pedro Barata da Eira, decidi. E também não seria para o Claquete, mas para mim, que:
“não achar Heston um actor excepcional é um acto de ignorância e desfaçatez política e de "double-thinking”."
No caso da citação anterior, como não escrevi isso, além da confusão entre individual e colectivo, a frase de Domingues enferma de um problema mais sério: citar de forma errada um texto e daí partir para a elaboração de um raciocínio assente em premissas falsas.
Passemos então à lição seguinte.
Lição nº 2 – Ler e Comentar
Quando se lê um texto, e se pretende comentar o mesmo, devem-se comentar os factos apresentados ou afirmações produzidas no mesmo. Não se deve atribuir ao autor do texto algo que ele não disse.
Assim, em lado nenhum eu escrevi que Charlton Heston era “um actor excepcional” mas sim que teve uma “carreira de competência e sucesso”. Se nunca disse que Heston foi um actor excepcional, muito menos poderia ter concluído que quem não achar tal comete “um acto de ignorância e desfaçatez política e de "double-thinking”".
Depois da atribuição falsa de afirmações e pensamentos, Domingues vira-se para a citação directa, tentando recorrer à ironia como forma de explicitar uma opinião divergente. Motivo para uma nova aprendizagem.
Lição nº 3 – A ironia versus a taberna
A utilização da ironia deve ser trabalhada, pensada e treinada. Se utilizada de forma preguiçosa, a acidez corrosiva da palavra é substituída pelo paladar desagradável da cerveja da taberna da esquina.
Assim, quando eu me refiro à intervenção cívica de Charlton Heston, talvez a maneira de tornar a resposta interessante não seja recorrer ao chavão de reduzir a sua personalidade e vida aos anos que passou como Presidente da NRA. Mesmo dando de barato que a questão do porte de arma pode ser vista a preto e branco, a vida pública de Charlton Heston fora da sua actividade profissional não se resumiu a isso. Talvez Domingues não o saiba, e nesse caso perdeu uma boa oportunidade para exercer o seu direito ao silêncio.
Lição nº 4 – Ler e Entender
Depois de repetir pela terceira ou quarta vez o pressuposto falso de que eu disse que Heston era um “actor excepcional”, Domingues passa a acusar-me de fazer politica rasteira e de utilizar Orwell para fazer crítica cinematográfica.
Acontece que em lado nenhum do meu texto faço crítica cinematográfica. Mais, não falo sequer de cinema, facto pelo qual tive até o cuidado de pedir desculpa aos meus colegas de blogue.
Fica assim mais um conselho: , não basta ler, é necessário entender. É verdade que, depois de entender, podemos passar a uma fase mais subjectiva que é interpretar, quando algumas passagens possam ser abertas a isso. Mas não vamos complicar, não só porque o meu texto não contém dessas passagens, mas também porque não quero tornar os conceitos demasiado inacessíveis a Domingues.
Meu caro Domingues, mais simples não consigo. Espero tê-lo ajudado!
Algumas notas sobre aspectos acessórios do texto de Domingues:
1) Os leitores poderão julgar o que são polémicas frívolas e postiças, e o que são textos justificados e pertinentes. Eu, por mim, recomendo vivamente os blogues de Miguel Domingues, as polémicas em que se envolve, onde o debate sobre o cinema toma claramente o primeiro plano, numa visão lúcida, multifacetada, complexa do cinema e da realidade que o envolve, onde o estereótipo e a ideia feita não têm lugar.
Como exemplo, deixo aos leitores um excerto do seu “texto sobre “Tropa de Elite” para que possam partilhar a complexidade que emana das palavras deste vibrante e real blogger, ao contrário de quem escreve nesta cabana postiça e frívola.
"Vai ser o fim da picada: num ano, o quadragésimo aniversário do Maio de 68 – uma espinha na garganta da direita – e a estreia deste Tropa de Elite, futuro filme preferido de muito má gente e por todos os motivos errados. A direita vai cantar vitória e nem a crise em que os mais queques dos partidos dos meninos do Restelo e do eixo Lisboa/Cascais se encontram os vai impedir de cantar vitória. E, no fim de contas, vai tudo estar na mesma. O objectivo, aliás, nunca foi outro. "
2) Miguel Domingues considera cómico citar Pacheco Pereira, e utiliza uma larga exclamação para julgar o adjectivo de lúcido que lhe aplico. Pressuponho que tal exclamação se deve a discordância. Compreendo que, para quem tem uma visão política e social complexa, moderna e de futuro como a que Domingues expressa em textos como o da citação anterior, estar sujeito aos pensamentos derivados das simples regras da lógica como os de Pacheco Pereira seja limitativo.
3) Ainda sobre a citação de Pacheco Pereira e a tentativa que, no final, Domingues faz ao correlacioná-la comigo. É verdade que o texto, ao ser citado, pode sempre ser aplicado a quem o cita. Aliás, o próprio Pacheco Pereira termina o texto dizendo “Como também tenho um blogue, deixo aos leitores o julgamento do que se me aplica do que aqui digo.” É um julgamento subjectivo que fica com cada qual. Para mim é um retrato duro, mas verdadeiro, da pouca blogosfera nacional que leio (cada vez menos), relacionada com cinema, e da que já li no passado, mais centrada em assuntos sociais e políticos. E é esse o principal motivo que me afasta de participar mais, ajudado pela a preguiça e as outras exigências da vida. Certamente eu não serei imune a alguns dos problemas que Pacheco Pereira aponta nesse artigo, apenas posso dizer que me esforço por ser, nas raras vezes em que participo neste blogue.
4) Finalmente, e um pouco a despropósito, Domingues resolve citar o Há Lodo no Cais, blogue da co-autoria do meu colega no Claquete e amigo Miguel Galrinho. Para que não fique a ideia que assobio para o lado, deixo aqui a minha opinião sobre o mesmo. O que li do Há Lodo no Cais revela um blogue mordaz e divertido que me proporcionou várias gargalhadas. Não é um blogue simpático ou consensual, mas isso não é sinónimo de interessante, pelo menos no meu dicionário. A opção pelo anonimato é sempre discutível. No entanto, não vejo razão de monta para isso ser um tópico de relevância neste caso, já que o blogue não o utiliza para injuriar ou caluniar pessoalmente outros, mas sim para por em causa opiniões, posturas e afirmações de pessoas em textos de carácter público. Poderá existir um ou outro excesso que cai numa zona cinzenta, não fui reler, mas nada que justifique o alarido.
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