Showing posts with label Mel Gibson. Show all posts
Showing posts with label Mel Gibson. Show all posts

9.1.07

Introdução

Em boa verdade, o último filme de Mel Gibson - Apocalypto - não passa de uma introdução. Somos introduzidos a um mundo que nos cativa de imediato, porque Gibson foca-se em dois temas especificamente humanos, que promete abordar: o medo e a família. E, por isso, quando se dá a destruição da aldeia, trata-se de uma cena com algum poder dramático. A violência tem, de facto, um grande impacto, porque surge na sequência das relações que ali se estabeleceram. Porém, a partir daí o filme muda. A introdução de temáticas promissoras que poderiam dar alguma profundidade ao filme são abandonadas, e ficam-se por aí mesmo: pela introdução. Repare-se na forma como é usada a violência a partir daqui: a tortura e a forma como se retiram vidas humanas da forma mais sangrenta, parecem não ser mais que meros adereços visuais, consequência da falta de preocupação com as personagens. Recorde-se a função dramática da violência nos quinze minutos finais de Braveheart (Gibson parece cada vez mais longe do sentido épico-dramático desta sua segunda obra) e façam-se as comparações.

Resultado: no último terço do filme, o protagonista corre. Foge do medo que o persegue, enquanto procura chegar à família para a salvar. É um bom ponto de partida, sem dúvida, pois está ligado com os temas iniciais, além de permitir uma abordagem de grande complexidade humana, mas infelizmente não passa de um mero ponto de partida. A relação introduzida no início do filme, em cerca de dez minutos, já vai longe e não tem qualquer desenvolvimento emocional. Daí que Gibson, durante a perseguição, alterne frequentemente imagens do protagonista com imagens da sua família: para nos lembrar de que ela existe, mas sem nunca fazer mais do que isso. Não há construção, não há progressão, não há desenvolvimento... há apenas a memória do que poderia ter sido um grande filme, essencialmente humano, mas que acaba por gastar todo o seu potencial em cenas de perseguição já vistas (porque filmadas sem inventividade) e num retrato superficial de uma Civilização.

Uma Civilização que, diz-nos a
tagline, se destrói por dentro... No limite, é um pouco o que acontece a Apocalypto: um filme que, ao invés de se desenvolver, vai progressivamente desconstruindo as suas relações e personagens, quase num decrescendo dramático que só progride em direcção ao vazio...

4.1.07

Desilusão

Apocalypto de Mel Gibson

Primeiras impressões
Seja qual for a ideia que temos de Mel Gibson e do seu cinema, há que reconhecer que estamos perante uma voz singular. Gibson é de facto um autor na verdadeira acepção da palavra, com uma visão muito própria do mundo e isso reflecte-se inevitavelmente nos objectos que produz. Mas, entendamo-nos, um autor, qualquer autor, é um ser humano estando, portanto, sujeito a falhar. Olho para este Apocalypto de Mel Gibson como um objecto falhado.
Os omnipresentes temas da libertação, da decadência civilizacional inevitável, da existência de uma qualquer ordem divina natural, da predestinação do "herói", da redenção e da violência como forma de a atingir continuam a surgir como as forças motrizes deste cinema. Ressalta contudo a ideia de que Gibson parece, neste caso particular, ter-se deixado maravilhar em demasia pelo enquadramento, esquecendo a substância. Dito de outra maneira, Apocalypto tem visuais impressionantes, tem - à partida - personagens, tem diversas sugestões temáticas interessantes, mas nunca consubstancia verdadeiramente os seus motivos e intenções. Exemplo disso é a utilização da violência, que deixa aqui de ter um valor funcional para se transformar ela própria num personagem que contamina o filme, mas sem que tal tenha verdadeira dimensão consequente.
A linha narrativa de Apocalypto segue um personagem que corre pela selva fugindo aos seus captores na esperança de resgatar a família que deixou para trás. Tal como ele, Apocalypto corre freneticamente mas sem uma linha de rumo, ziguezageando e tocando aqui e ali nas folhagens dos "novos planos de consciência" que o realizador disse pretender atingir mas de forma tão fugaz quanto superficial.
No final a circunferência fecha-se, mas a sensação dominante é o vazio. A volta completou-se mas nada se ganhou verdadeiramente. Por isso, Apocalypto é, no limite, um filme inconsequente.

2.1.07

Expectativas da semana

Apocalypto de Mel Gibson

For all its excesses, it's an absorbing, disturbing, savagely beautiful "trip" movie, and an extraordinary -- perhaps even outrageous -- personal vision of the one A-list filmmaker who truly deserves the adjective "maverick."

William Arnold, Seattle Post-Intelligencer

Quinta-Feira nas salas



The River de Jean Renoir

The River é o filme do "triunfo artificial da verdade interior"? Ao contrário de todas as aparências, é, sim senhor. E é por o ser que esse triunfo parece tudo menos artificial. O filme sobre o consentimento é o filme sobre a máxima ilusão. Com The River começou o cinema moderno.

João Bénard da Costa,
"Da Vida e Obra de Jean Renoir", Jean Renoir - Lisboa 94 Capital Europeia da Cultura - Cinemateca Portuguesa.

Domingo na Gulbenkian