Showing posts with label Natal. Show all posts
Showing posts with label Natal. Show all posts

24.12.07

Breve elogio ao Natal através da sua ausência (pelos olhos do Cinema)

* Cena de «Catch Me If You Can» (Spielberg, 2002)

Quando Leonardo DiCaprio olha do lado de fora da janela para a casa onde a sua mãe e um homem e uma criança que desconhece celebram o Natal – naquela que é a mais assombrosa cena de «Catch Me If You Can» e um dos quadros cinematográficos mais desencantados de sempre – ele olha sobretudo para a impossibilidade de habitar aquela casa e, nesse sentido, para a ausência absoluta do Natal enquanto espaço afectivo.

Daí que o Natal se construa também sobre o imenso peso da sua falta. Ele vem efectivamente preencher algo. Sendo que esse algo – no absoluto dos absolutos – é precisamente a sua ausência. Sentir o Natal a partir do «não-Natal» é verificar a sua grandeza e omnipresença. Não vejo melhor elogio que se lhe possa fazer.

Votos de um feliz Natal.

25.12.06

Natal com emoção



Na noite de consoada, George Bailey vê-se confrontado com uma situação devastadora e decide por fim à sua vida. É então que algo superior intervém e revisitamos toda a sua existência na pequena terra onde nasceu, toda ela recheada de sonhos para sempre adiados pelo peso da responsabilidade que assumiu ainda muito jovem. Quando se preparava para viajar e estudar na universidade é confrontado com a morte do seu pai e a necessidade de retomar um trabalho que nunca desejou na sua companhia de empréstimos. Toda a sua vida é marcada por uma série de eventos que privam George das suas idealizações pessoais em prol do que considera correcto. Vemos o seu antagonista, Mr.Potter, um avarento milionário que tenta por fim à sua pequena empresa e vemos também a pureza sentimental de Mary, a mulher por quem se apaixona. E depois do momento de desespero vemos também como seria a vida destas e tantas outras pessoas caso a bondade e altruísmo de George não existissem em Bedford Falls. E na importância da vida de um só homem, e no buraco que a sua ausência provoca, é espelhada toda a verdade da época natalícia. Não é decerto por acaso que It’s a Wonderful Life é um dos filmes tão amado e recordado, nesta e em todas as outras alturas, uma comovente e inigualável história de Frank Capra com uma interpretação arrebatadora de James Stewart, que conjura como ninguém o espírito único do homem comum. E sessenta anos depois, continua a ser uma obra não só inspiradora como também de extrema importância. Isto porque nesta altura de tremenda comoção e oportunismo comercial, e do cinismo que tal invoca, é usual nos esquecermos da verdadeira e inabalável essência do Natal. No entanto existem certos objectos, de arte ou de tradição, que nos recordam dessa magia. It’s a Wonderful Life é um deles.

24.12.06

Natal sem emoção


Haverá melhor altura do que esta para ver ou rever os clássicos natalícios? Neste Natal, a escolha foi ver esse grande clássico, que já originou muitos remakes, chamado Miracle on 34th Street, realizado por George Seaton. Porém, comparar esse filme com outros clássicos e obras-primas absolutas (por exemplo, o sublime e intemporal It's a Wonderful Life, de Frank Capra) é comparar o incomparável. Miracle on 34th Street começa bem, desenvolvendo uma relação entre um homem que afirma ser o Pai Natal e uma menina que, pela educação que teve, não acredita em fantasias desse género. No entanto, todo o potencial de relações humanas que poderiam ser desenvolvidas a partir dessa relação, assim como as questões que poderia aprofundar (a importância da fé, da imaginação...), é desperdiçado quando George Seaton se lembra de esquecer tudo o que construiu e gasta todo o tempo, a partir de certa altura, em discussões de tribunal que tratam de provar objectivamente se aquele homem é, de facto, o Pai Natal. Tentando, no final, voltar às relações humanas, todas as questões levantadas acabam por ser feitas de forma superficial e sem o mínimo de genuinidade ou sentimento. Existirá Natal com menos emoção?