5.10.06

Dália Negra


Nesta nova adaptação para cinema de um policial de James Ellroy, depois de L.A. Confidential, Brian de Palma explora o brutal assassinato de Elizabeth Short, uma aspirante a estrela de Hollywood que é encontrada na berma de uma estrada eviscerada, decepada a meio e com um corte profundo de orelha a orelha. Mas tudo começa com Bucky Bleichert e o seu parceiro Lee Blanchard, dois amigos e antigos lutadores de boxe, que depois de uma última luta (ou golpe político publicitário) são promovidos no posto e tornam-se num dos pilares da investigação criminal de Los Angeles. Tudo parece idílico durante uns tempos, e aqui De Palma é extremamente leal ao género policial dos anos 30 e 40 com todas as suas nuances dramáticas e peculiaridades, os jantares e festas com a namorada de Lee, Kay Lake, a popularidade na esquadra e na imprensa... até o nome de Short inundar os jornais.


A partir deste momento tudo muda e The Black Dahlia torna-se numa cruel e intensa espiral de obsessão, que se espelha a nível estilístico, criando repentinas mas alucinantes mudanças de ambiência, viajando do clássico noir à insanidade total, com apontamentos de comicidade extrema a contrastar com a por vezes horrífica parada de violência. A única constante é a realização particularmente inspirada de Brian De Palma, quase um expatriado de Hollywood (este filme, como é normal, teve críticas horrendas no seu país natal), mostra um virtuosismo invejável, não só do ponto de vista técnico, onde se mostra no topo de forma com planos sobrepostos e sequências exuberantes, mas na própria forma como vai narrando este conto de forma tão desmesurada e plena de fulgor.

Josh Harnett é um protagonista mais que capaz e aqui encontra facilmente o seu papel mais marcante em cinema enquanto Hilary Swank interpreta magnificamente uma misteriosa femme fatale libidinosa e Scarlett Johansson invoca com pompa e sumptuosidade o ícone clássico de starlet hollywoodiana. Apesar de uns breves instantes de indecisão narrativa, The Black Dahlia é uma ousada, sensual e ambígua reinvenção do género noir ala De Palma, com uma trama sempre aliciante e com um desfecho brilhante que, no seu delicioso excesso, é cinematograficamente majestosa.



2 comments:

Hugo said...

Ora nem mais. Infelizmente, acho que este regresso, esta reinvenção não será facilmente digerida. Pior, o filme será alvo de ataques ferozes. Mas basta conhecer alguns dos clássicos noir, para ver o primor deste filme de De Palma.Homenageia o género, mas sem cair na subserviência.

Hugo said...

Ora nem mais. Este revisitar é, também uma homenagem e uma reinvenção. Entre fogo e gelo, ou seja, a emoção obsessiva que domina o écran e o gelo, isto é, a precisão milimétrica de De Palma nos movimentos de câmara. Filme essencial.