11.4.08

Solidão Instalada


«Coeurs» afirma-se desde já como um dos mais interessantes filmes lançados entre nós neste paupérrimo início de 2008. Quase cinquenta anos volvidos sobre a estreia da sua obra-prima, «Hiroshima Mon Amour» (1959), o veteraníssimo Alain Resnais decide filmar aqui a solidão não como programa ou percurso, mas como irreversível sentimento instalado. As personagens cruzam-se mas nunca saem realmente do mesmo sítio e surgem no ecrã sem contexto e sem futuro. Vamos percebendo, a cada fotograma que se acumula, que o movimento exterior destas personagens corresponde tristemente a um movimento estático interior.

Mais do que no argumento (que não nos assalta o espírito nem faz a diferença) importa atentar na realização de Resnais, notável a todos os títulos: os planos picados que esmagam as personagens, o posicionamento da câmara na exploração dos espaços que lhes aprisiona o olhar, a ausência de exteriores que as sufoca sem remissão. E a neve, claro, que transforma as personagens em meros bonecos fechados numa redoma em cima de uma cidade, Paris, que nunca vemos realmente. Talvez não seja um filme assim tão distante do abstraccionismo formal presente no genial «L’Année dernière à Marienbad» (1961).

4 comments:

Anonymous said...

ainda não vi :|

Anonymous said...

'Este país não é para velhos', 'Sweeney Todd', 'Darjeeling Limited', 'Sedução, Conspiração', 'O assassínio de Jesse James pelo cobarde Robert Ford', 'O lado selvagem'.
Paupérrimo?

Jubylee said...

Também não, mas está anotado, já que eu gosto muito de Pierre Arditi.

Anonymous said...

e ainda: '4 Meses, 3 semanas e 2 dias'.
Eu já não me lembro é de um ano começar tão bem...