5.11.06

«Hiroshima Meu Amor», meu amor!


«Hiroshima Mon Amour» (1959) – assim mesmo, sem qualquer vírgula, «para atenuar a violência» do choque entre as palavras Hiroshima e Amor –, essa obra-prima imprescindível de Alain Resnais, esse verdadeiro monumento de modernidade cinematográfica, contém das mais belas frases da história do cinema. Pelo menos ditas daquela forma, naquele contexto, por aquelas personagens...

Aquilo que começou por ser um documentário sobre a devastação nuclear de Hiroshima, na esteira do sucesso de «Nuit et Brouillard» (1955), acabou por transformar-se numa extraordinária meditação sobre o amor, as memórias, o tempo e a guerra. Alain Resnais apresenta um majestoso e moderno trabalho de realização (basta atentar na imagem inicial, onde se entrelaçam dois corpos em grande plano), mas são também os diálogos escritos por Marguerite Duras que conferem a este filme uma aura de indizível beleza. Seguem alguns exemplos:

- «Tu és como mil mulheres numa só».

- «Daqui a uns anos, quando te tiver esquecido e quando outras histórias como esta, pela força do hábito, voltarem a acontecer, lembrar-me-ei de ti como do esquecimento do próprio amor. Pensarei nesta história como o horror do esquecimento.»

- «Ele virá direito a mim, vai agarrar-me pelos ombros, vai abraçar-me… Vai abraçar-me… E perder-me-ei.».

- «Devora-me. Deforma-me à tua imagem para que um outro qualquer, depois de ti, não entenda mais o porquê de tanto desejo. Vamos acabar sós, meu amor. A noite não vai acabar. O dia não se erguerá mais sobre ninguém. Nunca mais. Finalmente!»

1 comment:

João Ricardo Branco said...

Cara Helena,

Sugiro-te vivamente o visionamento do filme. Será, com toda a certeza, amor ao primeiro visionamento!

Quanto a Duras, o que pretendi acentuar com o texto, mais do que qualquer outra coisa, foi que a beleza que o filme respira tem muita da beleza da sua escrita.

O meu principal lamento em relação a Duras é o de ainda não ter conseguido ver o seu mais amado/odiado filme: «India Song».