21.6.07

Stranger Than Paradise - Criterion

Descobri este filme há pouco tempo na Cinemateca, durante o ciclo de Jim Jarmusch, e revelei aqui a minha admiração por esta pequena pérola. O referido comentário foi escrito a quente, quando cheguei a casa da Cinemateca. Hoje, não só mantenho tudo o que disse, como acrescento que se trata de um filme que tem vindo a crescer na minha memória, recheado de momentos e de imagens de puro desencanto que o tempo não faz esquecer.

Apesar da minha vontade de, entretanto, o rever, preferi não tentar sequer procurar onde poderia estar disponível uma das suas edições em DVD descontinuadas, na esperança de que a Criterion um dia viesse a editar esta belíssima obra em DVD. Esse dia veio, felizmente, mais cedo do que pensava.

Clicar na capa do DVD para detalhes da edição.

18.6.07

There Will Be Blood



Palavras para quê? Obra-prima a caminho!

16.6.07

Fanny och Alexander


Sejamos directos: Fanny och Alexander, de Ingmar Bergman, é um dos filmes mais perfeitos e completos alguma vez feitos. O poder dramático desta obra-prima monumental vem precisamente daí: da quantidade de temas e perspectivas abordados, desde a infância à velhice; do tratamento dado a cada personagem, como se não existissem secundários, mas tivessem todos uma importância fundamental no desenvolvimento narrativo e na construção das outras personagens; da complexidade e do radicalismo das ideias dramáticas e da forma como se relacionam com a imaginação de Alexander, que, caso seja necessário apontar alguma, é de facto a personagem principal do filme. Está tudo na medida certa durante as 5 horas e 12 minutos de duração da versão televisiva: não há um único diálogo de informação inconsequente nem um único ponto narrativo em que algo fique por dizer; todo o filme é, enfim, uma obra de perfeito equilíbrio na forma e no conteúdo.

Na cena inicial, vemos Alexander sozinho numa casa, onde tem uma visão da morte. Durante o desenrolar do primeiro acto, conhecemos a família Ekdahl numa reunião para celebrar o Natal. São-nos apresentados os dramas individuais de cada personagem, mas sobretudo a força da união que existe na família e a felicidade em que vivem as crianças. Porém, a presença da morte, que surgira a Alexander na cena inicial, acaba por se relevar no segundo acto com o falecimento de Oscar, o pai de Fanny e de Alexander. E é assim que, de uma forma geral, a morte vai dando lugar à vida existente durante o primeiro acto, prosseguindo com o casamento de Emilie (viuva de Oscar) com o autoritário bispo Edvard Vergerus e o abandono por parte de Emilie e das crianças da casa colorida em que habitavam para a frieza da habitação do bispo.

E o filme poderia, com alguns ajustes, acabar aí, no final do quarto acto, já explorada a relação do bispo com Emilie e com as crianças. Se terminasse, seria na mesma, diga-se, um poderosíssimo drama humano. Mas ainda nos espera o quinto e último acto do filme, com duração de quase hora e meia. E nada nos pode fazer esperar o que aí vem: é aí que o ciclo se completa e que o desenvolvimento de personagens que tinha acontecido durante o primeiro acto adquire toda a importância dramática; e é aí que as cenas da imaginação de Alexander atingem o ponto máximo de transcendência na relação com a realidade, naquela história de peregrinação que lhe é contada para adormecer, mas que o deixa mais desperto que nunca (uma das mais belas cenas de cinema de que há memória?).

Não vi a versão de cinema, com pouco mais de três horas, mas, segundo o que li, as cenas cortadas foram maioritariamente as da imaginação de Alexander, o que é compreensível, dado que são as menos necessárias para que a narrativa faça sentido. Mas, na verdade, é esse lado do filme que faz a diferença, na medida em que o eleva de obra-prima com grande poder dramático a um patamar divino, religioso, transcendente... Uma das maiores obras de arte da História do Cinema, com uma edição em DVD pela Criterion à altura.