There Will Be Blood
Começando pelo lado que me desiludiu, There Will Be Blood não se aproxima, ao contrário do que esperava, do nível dessa obra-prima monumental que é Magnolia (para mim, o melhor filme da década de 90), assim como não está ao nível de outras obras-primas desta década, como por exemplo The Aviator, de Martin Scorsese, com o qual tem evidentes semelhanças. Falta-lhe, na verdade, toda a ambiguidade moral que Paul Thomas Anderson conseguiu atingir em Magnolia, e entrar completamente a fundo na mente das personagens. Recorde-se a cena em que Howard Hughes, em The Aviator, se fecha naquela sala de projecção: onde é que em There Will Be Blood existe uma cena de igual nível de intensidade e profundidade na abordagem do lado psicológico de Daniel Plainview?
Não é, porém, a inferioridade face a obras-primas deste calibre que faz com que o mais recente filme de Paul Thomas Anderson não seja magnífico. Pelo contrário, magnificência e poder são coisas que não faltam a There Will Be Blood, começando desde logo pelo poder visual de cada imagem por si. E não há melhor sequência para o demonstrar do que a da explosão (melhor cena do filme?), em que a fotografia apuradíssima desempenha um papel importante, mas o fundamental está mesmo na realização de PTA, sendo a escolha e sequência de planos verdadeiramente responsável pelo impacto visual e dramático da cena. E destaque seja feito àquele sublime travelling que acompanha Plainview a levar o filho para longe da explosão, e a ambiguidade que aí se verifica (depois de o por a salvo, volta a abandoná-lo).
Não é, porém, a inferioridade face a obras-primas deste calibre que faz com que o mais recente filme de Paul Thomas Anderson não seja magnífico. Pelo contrário, magnificência e poder são coisas que não faltam a There Will Be Blood, começando desde logo pelo poder visual de cada imagem por si. E não há melhor sequência para o demonstrar do que a da explosão (melhor cena do filme?), em que a fotografia apuradíssima desempenha um papel importante, mas o fundamental está mesmo na realização de PTA, sendo a escolha e sequência de planos verdadeiramente responsável pelo impacto visual e dramático da cena. E destaque seja feito àquele sublime travelling que acompanha Plainview a levar o filho para longe da explosão, e a ambiguidade que aí se verifica (depois de o por a salvo, volta a abandoná-lo).
Tal ambiguidade está, aliás, presente em todo o filme, que PTA vai construindo subtilmente, muito mais através de imagens do que de palavras. Apesar da constatação óbvia de Plainview usar o filho com interesses comerciais e económicos, essa relação acaba por ser tudo menos óbvia. Veja-se, por exemplo, a cena na Igreja: é irrelevante para Daniel Plainview pedir perdão a Deus e ser humilhado em público, sabendo que o faz com interesses económicos; não é, no entanto, com a mesma facilidade que, nessa mesma cena, admite ter abandonado o filho. Outro exemplo disso é o estado em que Plainview fica depois da conversa final com o filho (apesar da despreocupação que pretende demonstrar), e o flashback que entra de seguida, relembrando-se das brincadeiras de criança de H.W. com a rapariga que se tornou sua esposa.
O referido momento tem um significado especialmente tocante, na medida em que é um dos raros em que a banda sonora que o acompanha é consonante e melodiosa, em contraste com o resto do filme, em que é maioritariamente atonal e à base de percussão; uma réstia de humanidade e emoção no meio de toda a frieza e desumanidade que assombram o filme. Todo esse distanciamento e ausência de emoção é perturbante pela forma extrema como PTA o filma. E não há melhor exemplo disso do que a cena em que Daniel decide que H.W. deve regressar depois de o ter abandonado, e PTA filma toda a cena (inclusive o abraço entre pai e filho!) com um distanciamento incrível (literalmente), utilizando um imenso plano geral que não oferece espaço para uma única pinga de emoção.
O referido momento tem um significado especialmente tocante, na medida em que é um dos raros em que a banda sonora que o acompanha é consonante e melodiosa, em contraste com o resto do filme, em que é maioritariamente atonal e à base de percussão; uma réstia de humanidade e emoção no meio de toda a frieza e desumanidade que assombram o filme. Todo esse distanciamento e ausência de emoção é perturbante pela forma extrema como PTA o filma. E não há melhor exemplo disso do que a cena em que Daniel decide que H.W. deve regressar depois de o ter abandonado, e PTA filma toda a cena (inclusive o abraço entre pai e filho!) com um distanciamento incrível (literalmente), utilizando um imenso plano geral que não oferece espaço para uma única pinga de emoção.
E, de facto, só assim podia acontecer para ser fiel à psicologia da personagem principal, cuja complexidade provém não tanto da sua humanização, mas sobretudo da sua desumanização. Esse é, aliás, um dos grandes méritos do filme, que pertence não só a Paul Thomas Anderson, mas sobretudo a Daniel Day-Lewis, cuja interpretação monumentalíssima dispensa quaisquer comentários. Neste contexto, a cena em que percebe que o homem que se diz seu irmão não o é verdadeiramente adquire um impacto dramático arrebatador, na medida em que se tratava da sua última esperança de construir uma relação com outro ser humano que tivesse de facto como base o factor humano.
Finalmente, não se pode deixar de destacar a importância da já referida banda sonora. Se por um lado é maioritariamente dissonante, por outro a forma como se conjuga com as imagens é de uma consonância absoluta. Diria mesmo que é impossível imaginar aquelas imagens com outra música a acompanhar: o retrato desumano, frio, vazio nunca teria sido tão arrebatador sem os sons atonais, dissonantes e com grande recurso a instrumentos de percussão que o acompanha. Raras vezes a música foi usada com tal função dramática, de tal forma que se pode mesmo dizer que, neste filme, imagens e música não se podem separar.
Finalmente, não se pode deixar de destacar a importância da já referida banda sonora. Se por um lado é maioritariamente dissonante, por outro a forma como se conjuga com as imagens é de uma consonância absoluta. Diria mesmo que é impossível imaginar aquelas imagens com outra música a acompanhar: o retrato desumano, frio, vazio nunca teria sido tão arrebatador sem os sons atonais, dissonantes e com grande recurso a instrumentos de percussão que o acompanha. Raras vezes a música foi usada com tal função dramática, de tal forma que se pode mesmo dizer que, neste filme, imagens e música não se podem separar.
O objectivo de Paul Thomas Anderson com There Will Be Blood era construir uma obra monumental sobre o poder, a religião, a ambição. No entanto, apesar de todo o meu fascínio pelo filme, não posso afirmar que esse objectivo seja plenamente conseguido. Pergunto-me, por exemplo, até que ponto é que a (excelente, diga-se) cena final não teria tido um dramatismo ainda maior como conclusão do confronto entre poder e religião se o padre Eli Sunday, interpretado por Paul Dano, tivesse sido retratado com maior ambiguidade. A personagem funciona, mas falta, de uma forma geral ao argumento de Paul Thomas Anderson, uma maior complexidade e profundidade que levaria de facto o filme ao estatuto da obra-prima que não é, mas que claramente pretende atingir. Não deixa, porém, de ser um filme magnífico.
1 comment:
eu gostei do filme, só acho q não parece ser do paul thomas...
Post a Comment