4.2.08

Lust, Caution: cinema de anulação

Depois do enorme sucesso de «Brokeback Mountain» (um bom mas limitado melodrama), Ang Lee decide agora fazer uma incursão pelo drama de espionagem, trocando as verdejantes pradarias americanas pela sombria Shanghai dos 1940’s. O resultado é um enorme desastre chamado «Lust, Caution».

Em termos directos e intuitivos pode dizer-se que «Lust, Caution» é a transformação do romance literário de Eileen Chang (pequeno livrinho com escassas dezenas de páginas) num inenarrável pastelão cinematográfico de quase 3 horas, onde se vão aglutinando imagens sem gravidade ou tensão. As imagens deste penoso filme são, aliás, imagens de verdadeira anulação: anulam o espaço, as personagens e as suas tensões; anulam as outras imagens e a seguir anulam-se a si próprias. Não há uma vertigem dramática, um acontecimento que desequilibre, uma emoção que expluda, um sentimento que se afirme. Apenas o vazio. E o enorme desinteresse em ser espectador deste filme.

As tão badaladas cenas de sexo explícito – que em termos programáticos cumprem aqui a função de marketing que a homossexualidade cumpriu no filme anterior de Lee – tentam a determinada altura conferir ao filme um certo peso visceral que até aí não existia, mas esbarram com o vazio que percorre a obra e o seu efeito acaba irremediavelmente anulado. O adorno formal deste filme constrói-se, assim, sobre o vazio e as personagens (?) deambulam pelo espaço como autónomos a percorrer o guião. Cinema de anulação, segundo Ang Lee.

1 comment:

Catarina said...

Quantas vezes tenho que te dizer que Brokeback Montain não é limitado?:-)

Agora num tom mais sério também fiquei desiludida com este Lust, Caution. Contudo ao contrário de ti, não o acho assim tão mau. Simplesmente não devia ser tão longo e falta-lhe brilho. De facto, as cenas de sexo não estão lá a fazer nada e sinceramente não vejo porque dizem ser tão escandalosas...

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