18.5.08

Interessante Decepção


Interessante perspectiva sobre a imagem, as suas múltiplas verdades e o papel central que tem na definição da relação do homem moderno (ou pós-moderno, como alguns preferirão) com o(s) outro(s). O banquete de sangue é, claro está, servido no cenário apocalíptico de mortos que regressam à vida, a imagem de marca de Romero.

A ideia de adoptar uma perspectiva de ultra realismo, buscando imagens de câmaras amadoras é recente mas nada inovadora, bastando lembrar os ainda frescos Redacted e Cloverfield. Configurava-se, no entanto, como o dispositivo ideal para Romero voltar à utilização do filme de zombies como objecto de reflexão e crítica social, coisa que vem fazendo como ninguém desde o clássico Night of the Living Dead (1968) até ao excelente Land of the Dead (2005).

É assim com pena que se vê, demasiadas vezes, o discurso sobrepor-se à imagem, a mensagem aos acontecimentos, numa vontade panfletária que cresce exponencialmente com o aproximar do final, acabando por se sobrepor a tudo e comprometer a crueza e as virtudes ponto de vista escolhido. O exemplo mais notório e progressivamente irritante é a voz off do personagem feminino, interpretado por uma actriz limitadíssima, que começa por ser pertinente para acabar a explicar significados de acções e imagens. E, como regra de polegar, um filme está sempre em apuros quando precisa de narração para explicar o que montagem não consegue. Haverá excepções, mas não muitas.

Diary of The Dead é assim um filme menor de Romero, que também os há. O talento do artista percebe-se a léguas, mas a diferença entre o objecto resultante e aquilo que poderia ter sido deixa à tona um sentimento de decepção.

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