7.3.07

Cinema em Silêncio

Uma breve nota para assinalar o visionamento de «Die Große Stille / O Grande Silêncio», seguramente uma das mais extraordinárias experiências cinematográficas de 2007. Este documentário de Philip Gröning oferece-nos uma reconfortante viagem ao interior da Grande Chartreuse, sede da Ordem dos Cartuxos, para documentar o permanente acto de fé dos monges que habitam o mosteiro. Convite, pois, a uma viagem espiritual a partir de uma meticulosa viagem documental.

O grande silêncio que o título do filme evoca está no auto-imposto emudecimento colectivo dos monges, mas não parece que estejamos perante um filme sobre o valor do silêncio, pelo menos em termos absolutos. Na verdade, este notável objecto de cinema parece querer instalar-se progressivamente nos sons da natureza e do mundo, ora acentuando a impossibilidade de filtragem de intromissões sonoras externas, ora procurando a simbiose com a natureza envolvente para poder respirar. É um silêncio de vozes, não um silêncio de sons. Dir-se-ia mesmo que é um silêncio de vozes para que se possa aceder precisamente a esses sons. Aos sons do mundo. Aos sons de tudo.

Mas o que importa verdadeiramente sublinhar aqui é que existe muito Cinema em «Die Große Stille», mais do que aquele que à partida podíamos imaginar. Gröning controla de forma notável o espaço e o tempo cinematográficos e apresenta um exímio trabalho de câmara, ora com grandes planos que parecem penetrar a alma, ora com planos gerais de uma tal sensibilidade que parecem permitir que alma penetre neles. É nesta dialéctica de planos e nesta verdadeira rima de imagens que o filme mais se transcende. O assombroso trabalho de montagem de Gröning faz-nos estremecer incessantemente e corta-nos literalmente a respiração. Como os sons ao silêncio.

1 comment:

Anonymous said...

É uma experiência e tanto este filme. Ainda bem que há quem o saiba viver na sala de cinema...