15.3.07

A Fonte Pariu um Rato


Depois de seis anos de ausência, o prodígio Aronofsky está de volta. Deixando para trás a originalidade demencial de Pi (1998) e a viagem aos infernos de Requiem for a Dream (2000), o realizador não fez a coisa por menos e decidiu tratar o tema da vida eterna. Após atribuladas discussões, badaladas notícias, reduções de orçamento, trocas de actor principal e anúncios de abandono, o filme aí está, protagonizado pela companheira do realizador Rachel Weisz e pelo australiano Hugh Jackman.

O fio narrativo condutor não podia ser mais simples - Tom Creo (Hugh Jackman) procura desesperadamente encontrar uma cura para o cancro, travando assim a eminente morte da sua mulher Izzi (Rachel Weisz). Paralelamente existem outras duas linhas, uma no tempo da Espanha dos Conquistadores e outra num futuro indefinido, que servem como extensões figurativas da busca de Tom, procurando atingir uma ideia - nunca conseguida aliás - de adimensionalidade temporal e espacial da busca.

Aronofsky centra toda a dinâmica de emoções do filme na relação de Jackman com a mulher e, em particular, no aceitar da morte desta. Talvez o único sucesso do filme seja mesmo a forma como é conseguida em poucas imagens, com alguma subtileza (que falta ao resto do filme) e adoptando uma estética de close-ups, consubstanciar o laço transcendente que une os dois seres e a tragédia íntima que os ameaça.

Partindo daqui eram quase infinitos os caminhos que Aronofsky poderia trilhar, tantos quantas as possibilidades filosóficas, ontológicas, éticas e humanas este tema poderia abarcar. Infelizmente, o escolhido foi a auto-estrada da facilidade.

Respondendo ao que não deveria responder, mostrando aquilo que deveria ser o insondável, o filme embarca numa viagem que converge progressivamente para uma validação de um misticismo new-age, vindo desembocar num simplismo que não pode deixar de ser sancionado. Esteticamente, as imagens apresentadas no sentido da artificialidade, tomando o kitsch o lugar do clímax emocional. A hipnotizante música de Clint Mansell bem tenta resgatar as imagens do espartilho de realismo alucinado, mas não pode dar aquilo que não está lá, conduzindo à esquizofrenia sensorial inevitável - por mais que queiramos aquilo que vemos não é aquilo que estamos a ouvir.

The Fountain é como aqueles detergentes que tem a embalagem mais bonita e a melhor campanha de publicidade, mas que no fim da lavagem deixam as nódoas mais difíceis todas na roupa.

1 comment:

brain-mixer said...

Discordo totalmente contigo... Mas é essa a piada das críticas cinéfilas, o facto de ninguém ser igual ao outro ;)