7.12.07

Era uma vez...


«Enchanted», o novo filme da Disney, recupera precisamente o fulgor encantatório do «Era uma vez…» enquanto gesto primitivo associado ao imaginário das grandes histórias de fantasia e devolve ao espectador a possibilidade de voltar a acreditar. Acreditar em quê? Na fábula enquanto reconquista e celebração do nosso olhar de criança.

Aceitamos o desafio. Era uma vez, pois. Era uma vez uma princesa cantora e um príncipe caçador de monstros que viviam num reino de fantasia à procura do amor eterno. Conhecem-se de manhã, apaixonam-se à tarde e decidem casar e viver felizes para sempre no dia seguinte. Era uma vez também uma rainha malvada que antes do casamento recorre aos seus maléficos poderes para enviar a princesa… para o mundo real. Esse mundo real é a Nova Iorque dos dias de hoje, habitada por personagens frágeis, descrentes e toldadas pelo cinismo dos tempos.

Do choque destes dois mundos nasce toda a magia, um verdadeiro caldeirão de emoções, música e cor cozinhado com a mestria, mas sobretudo com o coração e a memória, da grande herança da Disney. Este filme merece aliás destaque porque não cai no recorrente erro de pensar que basta criar meia dúzia de bonecos falantes ou de príncipes andantes para se construir uma história de fantasia. Ao acreditar verdadeiramente na sua história e nas suas personagens, ao deixar a magia surgir e crescer, «Enchanted» assume-se como uma história de fantasia na sua mais genuína matriz.

A fantasia – a verdadeira fantasia – nasce sempre das personagens e da descoberta que elas fazem (da magia) do mundo e delas próprias. E «Enchanted» nunca tem medo de arriscar essa descoberta e ousa continuamente expor as suas personagens à interrogação capital: pode a fantasia sobreviver à realidade? Ou: ainda há espaço para o sonho fora dos contos de fadas? A resposta é-nos dada pela Disney em todo o seu esplendor e a revelação dessa verdade profunda não podia ser mais encantadora. De resto, é sempre reconfortante saber que uma história de amor ainda se pode decidir numa dança de baile antes das 12 badaladas…

1 comment:

C. said...

Hum, fiquei com vontade de "experimentar" ;)