27.1.08

Novo show de Joe Wright

Depois do embuste que foi «Pride and Prejudice», um filme absolutamente execrável e ridículo, não era com grandes expectativas que esperava este «Atonement», e decidi ignorar a excelente recepção norte-americana, até porque o anterior filme já tinha sido bem recebido. Porém, esperava-se que no mínimo este novo filme tivesse algo de minimamente interessante; afinal de contas, descer era impossível. Mas o que acontece é que, se por um lado se abandona o tom histérico de «Pride em Prejudice», por outro este tom mais sério em nada favorece o resultado final, tornando-se ainda mais irritantemente inconsequente e pretensioso.

Tudo em «Atonement» é completamente by the book e sem o mínimo de originalidade ou complexidade. Existe a preocupação de contar uma história, mas nunca a preocupação de construir algo narrativa e dramaticamente pertinente. Veja-se a primeira parte do filme: se fosse gasto menos tempo a chamar a atenção com saltos temporais despropositados e cenas filmadas sobre várias perspectivas, talvez se conseguisse criar algum intimismo, nem que fosse na relação romântica principal. Mas Joe Wright nunca investe nisso; limita-se a informar-nos de que ela existe, e depois quer apenas mostrar-nos os seus artifícios técnicos, como se fosse um grande realizador ou como se o tom do filme pedisse isso em todas as cenas.

Na verdade, todas as tentativas dramáticas do filme saem furadas pela forma descontextualizada como são inseridas, e pela encenação certinha que retira qualquer credibilidade e honestidade. Atente-se a como Joe Wright inicia a suposta reflexão sobre os horrores da guerra: sem qualquer propósito, e sem que tenha sido até aí levantado o tema, a personagem de McAvoy surge na floresta e de repente pára; durante um zoom out, vamos vendo algumas dezenas de corpos de crianças mortas (dispostas milimetricamente como se se tratasse de alguma pintura ou postal), e McAvoy verte duas lágrimas.

Mas a reflexão sobre a guerra não se fica por aí. No já famoso plano sequência de alguns minutos, McAvoy passeia-se pela praia assistindo ao horror que o rodeia, com tudo perfeitinho e a banda sonora em crescendo dramático (pena que nas imagens não exista drama nenhum), incluindo um côro de soldados perto do final a cantar em consonância com a música de fundo, até ao plano final geral de toda a praia ao pôr-do-sol. Era impossível ser-se mais previsível na encenação e na utilização do espaço. Qual é o porquê de toda esta utilização de recursos técnicos em cenas que têm tanto de pomposo como de oco? Como não compreendo o propósito, deixo a explicação do próprio Joe Wright: "Basically, I just like showing off."

Que não se pense, no entanto, que são pontuais as cenas em que tal acontece. Flashbacks inseridos a martelo que repetem cenas que já vimos só porque sim, banda sonora intrusiva de máquina de escrever e a tentar dar o dramatismo que não existe nas imagens, as já referidas cenas vistas sobre várias perspectivas intercaladas de saltos temporais: tudo isto é constante. Toda a construção narrativa tem como objectivo tornar tudo o mais pomposo possível, como se se estivesse a filmar o maior épico de todos os tempos, quando a dimensão dramática das personagens nunca passa daquilo que se vê no mais banal romance televisivo de domingo à tarde. De facto, filmes vazios há muitos. O que é, neste caso, verdadeiramente irritante, é que se queira vender o vazio como algo de grande dimensão dramática, através da execução aleatoria de movimentos de câmara e truques de montagem supostamente impressionantes. Joe Wright parece estar convencido de que é um grande realizador. Na verdade, é um dos piores do mundo na actualidade.

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