Sweeney Todd: um Burton menor-maior
Entre aquilo que é e aquilo que poderia ter sido, «Sweeney Todd» afirma-se como uma sólida, eficaz e muito fiel transposição para o cinema da magnífica peça teatral homónima. Tim Burton convoca o seu estilo habitual e transforma em quadros cinematográficos muito interessantes todos os fragmentos da peça, como se a cada momento pudéssemos contrapor as duas artes e respectivas linguagens e testar os seus limites e potencialidades. Numa palavra, dir-se-ia que Burton não reinventa a peça, mas também não teatraliza o filme. Mantém-se fiel ao seu estilo, mas é também fiel ao estilo da peça. Desta forma, o filme devolve-nos a possibilidade de reencontrar o fulgor da encenação teatral desta magnífica história de amor e vingança, ao mesmo tempo que não eclipsa os principais traços característicos e sedutores da arte burtoniana.
O material narrativo e poético de base oferecia, todavia, grandiosas possibilidades e o Cinema, já se sabe, é a arte de todas as possibilidades (e Burton um cineasta de muito talento). Daí que partíssemos para este filme com a expectativa de que Burton realizasse aqui a sua obra-prima, a sua grandiosa ópera trágica. Mas não, infelizmente. É verdade que estamos perante um belíssimo filme, mas não deixa de ser também claro – há que dizê-lo – que Burton joga invariavelmente pelo seguro, aposta nos planos controlados e directos, por vezes mesmo na mera transposição de quadros da peça quase de forma rotineira. Faltou-lhe, sobretudo, a ousadia e a irreverência de experimentar a grandiosidade – do espaço, dos sentimentos – e a inspiração para encenar a tragédia de forma desmedida e radical.
E no entanto não deixamos de gostar muito deste filme, porque naquilo que é (esqueçamos agora aquilo que poderia ter sido) «Sweeney Todd» consegue encenar uma grande história sem lhe retirar a grandeza e consegue ainda concretizar em plenitude (coisa cada vez mais rara) a verdadeira matriz do género musical: o que importa são as músicas e o que aí se canta/conta, isto é, são as partes não musicais que servem para complementar as musicais e não estas que servem para ilustrar aquelas. Gostámos sobretudo de poder ver em cinema uma história que já conhecíamos e que muito admirávamos e que de modo algum sai enfraquecida. Que balanço fazer, afinal? Um Burton rotineiro a filmar uma história maior sem a tornar menor? Um Burton menor-maior? Provavelmente, com todas as contradições que isso implica.
O material narrativo e poético de base oferecia, todavia, grandiosas possibilidades e o Cinema, já se sabe, é a arte de todas as possibilidades (e Burton um cineasta de muito talento). Daí que partíssemos para este filme com a expectativa de que Burton realizasse aqui a sua obra-prima, a sua grandiosa ópera trágica. Mas não, infelizmente. É verdade que estamos perante um belíssimo filme, mas não deixa de ser também claro – há que dizê-lo – que Burton joga invariavelmente pelo seguro, aposta nos planos controlados e directos, por vezes mesmo na mera transposição de quadros da peça quase de forma rotineira. Faltou-lhe, sobretudo, a ousadia e a irreverência de experimentar a grandiosidade – do espaço, dos sentimentos – e a inspiração para encenar a tragédia de forma desmedida e radical.
E no entanto não deixamos de gostar muito deste filme, porque naquilo que é (esqueçamos agora aquilo que poderia ter sido) «Sweeney Todd» consegue encenar uma grande história sem lhe retirar a grandeza e consegue ainda concretizar em plenitude (coisa cada vez mais rara) a verdadeira matriz do género musical: o que importa são as músicas e o que aí se canta/conta, isto é, são as partes não musicais que servem para complementar as musicais e não estas que servem para ilustrar aquelas. Gostámos sobretudo de poder ver em cinema uma história que já conhecíamos e que muito admirávamos e que de modo algum sai enfraquecida. Que balanço fazer, afinal? Um Burton rotineiro a filmar uma história maior sem a tornar menor? Um Burton menor-maior? Provavelmente, com todas as contradições que isso implica.
6 comments:
Ainda não vi! Já se sabe que não sofro de cinefilia!:-)
Mas na imagem deste filme, o tão reinventado Johnny Depp cheira-me a mais-do-mesmo!
Uma espécie de Eduardo mãos de tesoura sem as mãos de tesoura, ou não?
Grande Ana!
Não sofres de cinefilia, mas acho que o «Sweeney Todd» é um filme para ires ver e para gostares ;)
E Johnny Depp está magnífico. A sua personagem troca as tesouras por navalhas e a inocência e inconsciência de Eduardo por uma trágica consciência da vingança e da morte.
Beijos
Acho que de facto um dos grandes pecados deste novo Burton é de facto o Depp com uma colagem evidente ao Edward.
Na minha modesta opinião um dos Burtons mais fraco, só suplantado pelo desgraçado Planet of the Apes.
É, sem dúvida, um título "à parte" na filmografia de Burton. Um pouco à semelhança do que sucedeu com PLANETA DOS MACACOS.
O realizador só a espaços consegue transportar-nos para o genuíno ambiente burtoniano e, por isso, SWEENEY TODD não é uma obra imediatamente reconhecível como sendo de Tim Burton.
De qualquer modo, o filme merece nota positiva.
Cumps. cinéfilos.
O personagem do Johnny evidente que nao se parece com eduardo mãos de tesouras é um outro personagem totalmente diferente, o problema é que as pessoas so visam o personagem mais famoso q Tim Burton dirigiu, e quando Johnny aparece com um personagem sombrio na qual o diretor é o Tim Burton tendem a ficarem comparando sempre com o Edurado mão de tesouras. Ele sem duvidas teve uma ótima atuação no filme está de parabéns. Sendo que o filme poderia ter sido mais dramatico é um filme estilo bem Burton mesmo ....... so que poderia ter um tom dramatico bem melhor e como sempre tem uma pitada de humor negro na história, vale a pena dar uma conferida!!
Trata-se de um Burton, nada a mais, nada a menos. Nem maior, nem menor. Este é um filme "à parte" na filmografia de Tim Burton? Bolas, se os filmes fossem todos feitos à regra onde estariamos...
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