30.1.08

4 LUNI, 3 SAPTAMANI SI 2 ZILE (2)


Este filme chega até nós carregado pela vitória em Cannes em 2007 e por uma onda elogiosa que o encara simultaneamente como símbolo de renovação do cinema de leste e como exemplo de honestidade no tratamento de uma questão social tão delicada como o aborto ilegal.

Olhamos para ele, todavia, com um certo distanciamento emocional e com relativa indiferença face às suas imagens. E rejeitamos, sobretudo, o elogio fácil e preguiçoso à sua (suposta) honestidade e ausência de julgamentos morais. De facto, parece-nos que a honestidade e a ausência de manipulação moral não são méritos cinematográficos dignos de registo, e que estar a salientar tal «dever ser» acaba por ser tão equivocado como elogiar uma pessoa por não mentir ou dar os parabéns a alguém por não roubar. Percebe-se a necessidade de contraposição face a objectos medíocres e manipuladores como «Vera Drake» (que, recorde-se, também em tema de aborto, decide convocar a pena – e em questões sociais, nada pior do que ter pena… – do espectador colocando a pobre Sra. Vera a chorar durante mais de meio filme), mas é importante não inverter os valores em causa!

De resto, nada neste filme nos parece especialmente marcante. Em termos temáticos as personagens e os seus dilemas não nos interpelam, não convocam novas reflexões, nem abalam as fundações das nossas convicções. Por seu turno, em termos estritamente cinematográficos as imagens compõem uma estética realista, crua e despojada, mas que em última instância parece sempre mais preocupada em acentuar um desejo de neutralidade (relativamente utópico, diga-se) do que em explorar a fundo os dramas das suas personagens. Regista-se a tentativa de tratar com relevância o tema do aborto ilegal numa Roménia aprisionada de finais da década de 1980, mas o cinema que aqui habita é apenas esforçado e competente e rapidamente se apagará da nossa memória.

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