12.3.07

Entre o Poder Ser e o Ser

«The Good German» podia ter sido…
Um filme que, partindo das memórias e dos códigos do cinema dos 40’s do século passado, construísse um espaço cinematográfico capaz de projectar novas imagens e de gerar novas memórias. No fundo, um filme que aliasse a revisitação nostálgica das formas à construção de uma matéria narrativa que se bastasse a si própria. O que estaria em causa não seria, portanto, uma inconsequente ideia de grande citação cinéfila, mas sim uma meticulosa reconversão formal que permitisse acolher uma grande história de hoje. Ou seja, uma verdadeira viagem no tempo sem sair do seu tempo, a impossível vivência presente de um passado que paira em nós apenas sob a forma de nostalgia do não vivido. Só o Cinema, enquanto Arte de todos os impossíveis, é capaz de nos fazer ter saudades de algo que não vivemos. Pedia-se a Soderbergh que acreditasse simplesmente nas possibilidades infinitas do Cinema…

«The Good German» acaba por ser…
Um filme que parte de um conjunto de referências formais e narrativas do cinema dos 40’s do século passado, mas que se mostra incapaz de as utilizar para atingir algo de significativo. Estamos, assim, perante um filme ao mesmo tempo parasitário e falido: vive das formas alheias e mostra-se totalmente inapto para construir novas imagens. O que acaba por ser trágico em «The Good German» é o seu vazio existencial, a sua infertilidade narrativa e a sua enorme debilidade cinematográfica. No limite, a falência deste filme está na sua incapacidade de produzir novas memórias. Nem sequer funciona como campo cinematográfico de reconversão: as memórias que guardamos de «The Good German» são simplesmente as memórias dos filmes que evoca.

Entre aquilo que «The Good German» podia ter sido e aquilo que acaba por ser está a medida do falhanço de Steven Soderbergh, esse verdadeiro cientista da imagem que aqui se limitou a recolher material sem chegar a experimentar fosse o que fosse.

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