1.12.06

Um mau ano para Ridley Scott

Com Um Ano Especial, Ridley Scott volta a deixar bem visíveis os seus desequilíbrios enquanto realizador. Max Skinner (Russell Crowe), um homem que só se interessa por fazer dinheiro, recebe da herança do tio (Albert Finney) uma quinta no sul de França. Interessando-se, inicialmente, por vendê-la e fazer dinheiro, acaba por, ao voltar lá, ir revendo em flashbacks alguns momentos que passou com o tio enquanto criança (Freddie Highmore). A ideia inicial fica, aliás, bem explícita e clara a todos, visto que não prima propriamente pela subtileza, sendo martelado cena a cena pelas mais diversas personagens que Max só se interessa por fazer dinheiro, e não por ir de férias ou por se divertir.

Toda a primeira hora do filme é de uma redundância narrativa absoluta, sem qualquer evolução a nível de personagens além do que é apresentado nos primeiros minutos, estando recheada de gags perfeitamente básicos e sem piada, acentuados por tiques de realização descabidos como câmaras aceleradas ou por uma montagem frenética e aleatória de imagens com o objectivo de demonstrar como Max anda perdido. É curioso que se fale, no filme, da importância do timing na comédia. O problema parece-me ser, no entanto, anterior a esse: na verdade, a maioria dos gags não funcionariam nem no momento mais acertado que se possa imaginar. Do ponto de vista dramático, Ridley Scott não está muito interessado na personagem principal: para além de alguns flashbacks pontuais, repetitivos, e de curtíssima duração, a personagem de Russell Crowe não tem muito mais desenvolvimento, e o actor também não consegue fazer grande coisa com os momentos humorísticos que tem à disposição.

Na segunda metade, os gags tornam-se pontuais e os tiques irritantes da realização desaparecem, tentando-se explorar uma relação romântica que, apesar de banalíssima e completamente by the book, não deixa de ser menos embaraçosa do que aquilo que se passou anteriormente. Apesar de alguns pormenores interessantes, como o da carta, o desfecho acaba por ser previsível em todos os aspectos. Esta segunda metade tem, ainda, outros defeitos, como um exagero de personagens secundárias insignificantes, mas supostamente relevantes. E o caso mais flagrante é por demais evidente: a relação romântica secundária que se estabelece em duas cenas de um minuto, terminando numa terceira cena de despedida, roça o patético.

Concluindo, esperemos que Ridley Scott regresse aos grandes filmes com American Gangster, escrito por Steven Zaillian (A Lista de Schindler) e com Denzel Washington e Russell Crowe, porque este Um Ano Especial entra desde já para a lista dos filmes mais escandalosamente falhados do realizador.

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