Um mau ano para Ridley Scott
Toda a primeira hora do filme é de uma redundância narrativa absoluta, sem qualquer evolução a nível de personagens além do que é apresentado nos primeiros minutos, estando recheada de gags perfeitamente básicos e sem piada, acentuados por tiques de realização descabidos como câmaras aceleradas ou por uma montagem frenética e aleatória de imagens com o objectivo de demonstrar como Max anda perdido. É curioso que se fale, no filme, da importância do timing na comédia. O problema parece-me ser, no entanto, anterior a esse: na verdade, a maioria dos gags não funcionariam nem no momento mais acertado que se possa imaginar. Do ponto de vista dramático, Ridley Scott não está muito interessado na personagem principal: para além de alguns flashbacks pontuais, repetitivos, e de curtíssima duração, a personagem de Russell Crowe não tem muito mais desenvolvimento, e o actor também não consegue fazer grande coisa com os momentos humorísticos que tem à disposição.
Na segunda metade, os gags tornam-se pontuais e os tiques irritantes da realização desaparecem, tentando-se explorar uma relação romântica que, apesar de banalíssima e completamente by the book, não deixa de ser menos embaraçosa do que aquilo que se passou anteriormente. Apesar de alguns pormenores interessantes, como o da carta, o desfecho acaba por ser previsível em todos os aspectos. Esta segunda metade tem, ainda, outros defeitos, como um exagero de personagens secundárias insignificantes, mas supostamente relevantes. E o caso mais flagrante é por demais evidente: a relação romântica secundária que se estabelece em duas cenas de um minuto, terminando numa terceira cena de despedida, roça o patético.
Concluindo, esperemos que Ridley Scott regresse aos grandes filmes com American Gangster, escrito por Steven Zaillian (A Lista de Schindler) e com Denzel Washington e Russell Crowe, porque este Um Ano Especial entra desde já para a lista dos filmes mais escandalosamente falhados do realizador.
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