25.12.06

Um ano de cinema em Portugal - O Pior (I)

EXCESSO DE ESTREIAS

Para quem ainda se lembra, e não é necessário recuar mais do que meia dúzia de anos, o número de estreias semanais em Portugal raramente ultrapassava as três. As queixas por parte da elite cinéfila eram grandes, reflectindo a reduzida oferta para além dos assim chamados blockbusters. A programação, com pontuais excepções além dos cinemas King e Nimas, era caracterizada por uma oferta que pouco mais fazia que reflectir as cadeias de transmissão do marketing internacional.

Foi assim com regozijo geral que foi visto o aumento para mais do dobro do número de estreias médio que ocorreu há cerca de dois anos. O que este contentamento obnubilou, como o demonstra o panorama consolidado actualmente, é que este aumento de estreias é feito exactamente pelos mesmos programadores que interpretam o seu trabalho como o de (maus) tradutores de nomes de filmes, sinopses e cartazes. Somos confrontados por vezes com um número de estreias semanal a aproximar a dezena, mas entre as quais encontramos filmes de qualidade duvidosa, em muitos casos lançados directamente em video nos países de origem.

As distribuidoras nacionais, em muitos casos as mesmas empresas que detêm as salas de exibição, alargaram o número de estreias numa medida puramente contabilistica para preencher o crescemente número de espaços disponíveis. Na sua esmagadora maioria, os departamentos de distribuição, desenvolvimento e promoção dos filmes são constituídos por gente que, além de incompetente, tem a visão estratégica de um funcionário público do governo de Salazar. Revelam uma preocupante incapacidade inata para distinguir as diferenças entre as propostas dos diversos filmes e as distinções que consequentemente devem marcar a sua introdução no mercado. As salas de cinema passaram assim a ser contentores do lixo destinados a limpar os catálogos das compras por atacado que os distribuidores nacionais fazem nos mercados de cinema.

Com uma média de cinco ou seis estreias semanais filmes tão diferentes mas relevantes como A Scanner Darkly ou American Dreamz não encontram lugar no mapa de estreias, ao passo que obras como Fauteuils d´orchestre ou Infamous são exibidas num anonimato que parece imitar um espião de Le Carré.

Muito se escreve, inclusivé na blogosfera, sobre a baixa exigência intelectual do espectador português. Mas, em abono da verdade e passando a sempre redutora generalização, o distribuidor nacional não lhe fica atrás.

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