25.4.07

Viúva Negra ou Aranhiço?

Spiderman 3 de Sam Raimi

O terceiro tomo cinematográfico da história de Peter Parker/Spiderman continua a adoptar uma filosofia narrativa suportada na condensação da vasta saga que o personagem percorreu nas histórias de quadradinhos. E se no nível estritamente narrativo, “coisas” continuam a acontecer, já no que diz respeito à qualidade das imagens e sua tradução em termos de densidade humana, muitas engrenagens parecem ter começado a emperrar.

Sem a frescura do primeiro filme e muito longe da complexidade dramática do segundo, Spiderman 3 acaba por funcionar apenas como síntese dos filmes anteriores, ponto de passagem que não compromete a continuação da saga, mas que nada de fundamentalmente novo lhe acrescenta.

Aqui, mais do que antes, a rarefacção dramática dos vilões constitui um problema. Sendo a grande pecha da saga, ela era antes muito atenuada pela concentração na definição da psique do personagem central e sua dupla identidade. No segundo filme, e naquela que é uma muito invulgar construção para um filmes destas dimensões e ambições, a transformação da sua ligação a Mary Jane Watson de paixoneta adolescente numa relação adulta e complexa, quase fazia esquecer essa falha. No entanto, deparamo-nos agora com um estranho apagamento, oscilando entre a indiferença e uma certa descaracterização cómica, de Peter Parker/Spiderman que conduz inevitavelmente a um esvaziamento da própria narrativa.

A multiplicação do número de vilões em nada ajuda, e acaba por ser paradoxal que o filme que mais potencial tinha para densificar o caminho que antes se percorria, seja pontuada por tanta dispersão, gerando este efeito de atomização do tecido nervoso da obra. É no mínimo estranho que o aparecimento do lado negro, que deveria justificar uma humanização no sentido mais abrangente do termo, em todas a sua infinidade de facetas, acabe por ter o culminar num superficial número ao jeito de Saturday Night Fever dos pobres, com Tobey Maguire passeando trejeitos de engatatão pelas ruas de Nova Iorque. O efeito é de comédia, mas certamente involuntária, funcionando pela completa ridicularização do personagem.

Neste contexto de falta de combustível ideológico, destacam-se pela positiva, alguns momentos de humor pateta e simples que conseguem o seu objectivo e a chegada ao universo Spiderman de Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), ainda que em sub rendimento neste filme.

Que a saga Spiderman irá continuar, poucas dúvidas existirão. Não representando um retrocesso, esta película constitui claro um passo ao lado, levantando reservas sobre a capacidade da actual equipa criativa em renovar ideias, e garantir o crescimento artístico do projecto. O assumir de Sam Raimi das funções de argumentista não pode deixar de ser encarado como um fracasso. Se novas escolhas forem feitas com critério, a saída de Raimi da cadeira de realização poderá ser a mais acertada das decisões.

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