2.4.07

Poesia Visual



Em semana de estreia da nova obra de David Lynch – «Inland Empire» – (que aposto, desde já, para filme do ano), vale a pena recuar exactamente 10 anos e relembrar esse espantoso filme que é «Lost Highway».

Sugiro, mais concretamente, que se atente na cena supra, seguramente uma das mais sublimes e belas da década passada. Nela podemos ver a arte de Lynch em todo o seu esplendor: uma verdadeira poesia visual de luzes e sombras! Ou melhor, um poema onde dois corpos constroem rimas feitas de luz e de sombra. Dois corpos? Na verdade, apenas um: o de Patricia Arquette (aplausos de admiração), que tudo domina e manipula. Ela é aqui, claramente, o centro gravitacional do nosso olhar.

Esta cena permite-nos, ainda, verificar que a capacidade sedutora de David Lynch está também na forma como nos faz regressar permanentemente a duas interrogações essenciais: 1) A que dimensão pertencem as imagens que vemos (real, onírica ou outra)? 2) O que se esconde por trás delas? Interrogações essas que coexistem sempre com o prazer estético do olhar, numa dialéctica que tem tanto de deslumbrante como de desconcertante.

Os ambientes meticulosamente criados por Lynch fascinam-nos com a sua paradoxal construção: são misteriosos e arrepiantes, por um lado, e sensuais, por outro. E daí nasce uma desconcertante ambiguidade que nos faz caminhar permanentemente no limite, tacteando cada nova imagem e cada novo som em busca da suprema compreensão das coisas.

2 comments:

Anonymous said...

Não conheço toda a obra de Lynch, mas este é o meu favorito de todos os que vi. Um knockout. Estou ansiosa por Inland Empire!

João Ricardo Branco said...

O «Lost Highway» é para aí o meu quinto ou sexto Lynch preferido, mas acho-o, ainda assim, um filme fabuloso.

Quanto a «Inland Empire», bom, o que dizer? Para já, dizer que é um verdadeiro monumento de cinema. Não conheço nada tão ousado e radical na filmografia do génio David Lynch. Espero que o adores também.