28.11.07

Nazis. I hate these guys!

Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull (2008)

22.11.07

Hot Fuzz


Vi ontem Hot Fuzz e tenho a dizer que é um filme que se espalha ao comprido e que não sabe aproveitar as poucas ideias interessantes que tem. Existe um conceito base que funciona em termos de comédia: o melhor agente policial de Londres é transferido para a vila mais perfeita de Inglaterra, onde há anos que não há assassinatos ou quaisquer problemas de segurança. Do que os argumentistas Edgar Wright e Simon Pegg se esquecem é que escrever comédia de duas horas para cinema não é como escrever sketchs de dois minutos para o Big Train: o conceito é bom, de facto, mas esgota-se ao fim de pouco tempo, quando se torna evidente que não há ideias para o explorar.

Perto do final, após um dos twists mais ridículos de sempre (aqui ridículo no bom sentido, já que é de facto a outra boa ideia do filme e favorece os seus propósitos), há uma ligeira melhoria com a introdução dessa nova situação, mas insuficiente, até porque as cenas climáticas finais de destruição acabam por se tornar chatas e inconsequentes, sucedendo-se de forma idêntica e repetitiva. De resto, a realização e montagem aceleradas a tentar parodiar os filmes do género é completamente aleatória e descontrolada. É verdade que a tentativa é parodiar esse descontrolo de câmara que existe na maioria dos filmes de acção que estreiam actualmente, mas para isso não se deveria ceder a esse mesmo descontrolo, mas sim ter noção dele, utilizando-o de forma controlada. Por outras palavras, torna-se quase uma imitação, em vez de uma paródia.

20.11.07

Cinema de Elite


Dificilmente um objecto como este tremendo Tropa de Elite poderia surgir no contexto das sociedades do Primeiro Mundo, dominadas por essa censura (cada vez menos) invisível do politicamente correcto. Provavelmente, ainda bem. É sinal que vivemos longe desta violência limite e suas terríveis consequências.

O certo é que esta frenética, dura e implacável realização de José Padilha é o filme com mais cojones que vi em muitos anos. Emoções, perspectiva, humanidade, contextualização social e política - isto sim é cinema de intervenção! Melhor: é Cinema e pronto.

Claro que um tratamento destes não poderia passar sem os epítetos de fascista e outras palavrinhas agradáveis com que os donos do pensamento colectivo gostam de rotular o que foge da sua cartilha de bem-pensar. Preferem certamente a "clareza" e "boas intenções" dos "documentários" do Senhor Moore.

Simplicidade na exposição dos problemas e disposição dos personagens perante os mesmos é muito diferente de simplismo, assim como não se pode confundir a perspectiva do personagem com a do autor.

Para mim, Tropa de Elite funcionou como um filme de uma total honestidade para com os actores da história e o drama que os envolve, e, sobretudo, para com o espectador e a sua liberdade de decidir sobre o que lhe é dado a ver.

19.11.07

Quem foi Ian Curtis?

Respostas a esta questão serão bem vindas e agradecidas.

Porque, depois de ver "Control", fiquei na mesma ignorância em que vivi nos últimos 25 anos em relação à pessoa. O filme de Anton Corbijn parece ter sido um retrato fiel de Curtis (pelo menos até certo ponto, dado que foi adaptado do livro escrito pela mulher deste). O que não é propriamente abonatório a seu favor. Passo a explicar:

Os Joy Division e Ian Curtis parecem ter sido/ser uma banda de culto, e que deixaram uma marca indelével no mundo da música. Digo que parece porque, repito, tenho vivido na quase total ignorância de tal banda. E o filme não me permite perceber o porquê desse culto.

Personagens é coisa que não vemos em duas horas de filme. Vemos, isso sim, meia dúzia de pessoas a movimentarem-se pela tela, sem percebermos as suas motivações, e os seus sentimentos (Sam Riley tenta, nota-se uma tentativa de construção de personagem, mas isso só não chega, embora, de todas as intervenções dos actores, a sua seja a melhor), tudo o que poderia ter algum impacto emocional (a incapacidade de escolher entre uma e outra mulher, a forma de lidar com a doença) é filmado tão banalmente que sentimos que não passa de um cliché já visto e revisto, e que cansa.

Não fora a magnífica fotografia (demos a César o que é de César, e Corbijn é um excelente fotógrafo), utilizando o preto e branco, as sombras e as luzes de forma irrepreensível, e este biopic sobre o vocalista de uma banda influente e de culto seria digno de figurar na programação de um Sábado à tarde na TVI.

Eu tinha expectativas algo altas para o filme. Fiquei um pouco desanimada com a opinião do Tiago. Mas infelizmente, tenho que concordar com ele...

DVD vs. Blu-ray - Descubra as Diferenças


18.11.07

Redacted


Redacted é um filme inteligentíssimo sobre a Guerra do Iraque, e por isso de visionamento obrigatório, embora não tenha o impacto dramático que se esperaria, assim como a realização de De Palma não está no habitual nível de engenho, ainda que sempre eficaz e com ideias.

Uma questão, face à previsível reacção crítica norte-americana: será que os críticos e jornalistas que, sem assistir ao filme, disseram que De Palma traiu a nação e as tropas, conseguem manter a mesma afirmação depois de o verem, quando este termina com a própria voz do realizador a congratular um herói de guerra? Infelizmente, já se viu que conseguem.

16.11.07

Hotel Chevalier

Com apenas treze minutos, Hotel Chevalier é melhor que 90% dos filmes que estrearam este ano. Esperemos que a inspiração de Wes Anderson se tenha mantido para The Darjeeling Limited. Enquanto grande fã de The Life Aquatic with Steve Zissou (e apreciador do resto da filmografia de Anderson), não posso deixar de esperar um grande filme.

Top... 5!

Tendo em conta o panorama de estreias até ao final de Dezembro, deixo já aqui o meu top, que este ano terá apenas cinco filmes, visto que a fraquíssima qualidade do ano 2007 em Portugal não permite mais. É possível escolher dez filmes, claro, mas não dignos de estar num top de melhores.

1. Eastern Promises, de David Cronenberg
2. Letters from Iwo Jima, de Clint Eastwood
3. Alexander: Revisited, de Oliver Stone
4. The Good Shepherd, de Robert De Niro
5. Redacted, de Brian De Palma

Sou ainda obrigado a colocar um filme que não estreou no circuito normal, mas foi apenas lançado em DVD, a magnífica versão revista do falhado Alexander, de Oliver Stone.

Não farei bottom, mas os destaques negativos vão para os péssimos El Laberinto del Fauno, The Last King of Scotland, Beowulf, e ainda para o pior do ano que vi: Fast Food Nation, de Richard Linklater.

Resta-me esperar um excelente ano cinematográfico para 2008, depois de Clint Eastwood, David Lynch, Darren Aronofsky, Zhang Yimou, David Fincher, Steven Soderbergh, entre outros que nem vale a pena referir, desiludirem.

15.11.07

eastern promises. cronenberg.


Perfeição absoluta, é o que me apetece dizer sobre Eastern Promises. E afirmar também, sem receio de me estar a precipitar, que é um dos melhores filmes dos últimos dez anos, e superior ao seu anterior (também obra-prima) A History of Violence, filme muito parecido no tom e no registo, embora muito mais directo no impacto emocional.

Tudo em Eastern Promises é fascinante, arrebatador, hipnotizante: a simplicidade narrativa em oposição à complexidade de personagens e emoções; a contenção dramática total, em todos os momentos do filme, face à brutalidade do impacto emocional que se vai apoderando do espectador; a banda-sonora de Howard Shore sempre de mãos dadas com essa contenção dramática, nada directa e sem um único momento de climax e de explosão, mas de uma profundidade musical impressionante; a fotografia de Peter Suschitzky, num estilo idêntico ao do A History of Violence, mas ainda mais perfeita e trabalhada a nível de cores e sombras; as interpretações, através da entrega por completo dos actores às personagens, destacando-se obviamente a sóbria (e magnífica) composição de Viggo Mortensen a nível físico e emocional; os diálogos, que muito pouco dizem, porque neste filme de inigualável subtileza nada é dito - nem sentimentos nem emoções -, já que para os captar está lá a câmara de um génio - David Cronenberg.

Sublime.

Um Regresso em Falso

Passados dez anos do seu anterior filme, um dos maiores e mais emblemáticos realizadores de todos os tempos regressa à realização, criando, como é óbvio, imensa expectativa em torno da sua nova obra, Youth Without Youth. A acrescentar a isso o facto de as estreias de filmes apelativos durante este ano estarem a ser escassas, ainda mais esperava encontrar no regresso de Coppola também um regresso aos grandes filmes a passar em Portugal, mesmo não sendo estreia oficial. É claro que, entretanto, já tinha surgido o trailer (bastante fraco), que fez que me dirigisse ao European Film Festival no Estoril sem certezas, mas confiante.

Visto o filme, fica bem claro que o realizador de Godfather se tem recentemente dedicado mais às suas vinhas do que ao cinema, e, verdade seja dita, podia lá ter continuado, porque o Cinema é escasso em Youth Without Youth. De uma forma geral: realização básica, sem qualquer visão ou profundidade; argumento superficialíssimo sobre todos os temas que aborda, preferindo sempre despejar citações filosóficas intermináveis a dar relevância ao lado humano das suas personagens; interpretações desequilibradas, sendo que Tim Roth vai apenas bem e Bruno Ganz está insuportável.

Antes de mais, é óbvio que quando falo em realização básica não me refiro à componente técnica, embora aqueles recorrentes e despropositados planos ao contrario e cenas com o duplo filmadas de forma sempre igual (com a originalíssima ideia de o filmar quase sempre em espelhos!) realmente o sejam, parecendo mais um novato a tentar impressionar com uns quanto truques que já têm barbas do que propriamente um realizador com a qualidade de Coppola. Porém, refiro-me principalmente, quando digo que a realização é básica, à forma desinteressante como o realizador olha para as personagens (quase sempre como meros declamadores de livros de filosofia) e para diversos temas que procura abordar (tudo superficial, tudo previsível e à base de sub-plots insignificantes).

Falando em previsibilidade, há que afirmar que, pelo contrário, o filme também tem a sua dose de imprevisibilidade: depois de uma hora a investir na componente política, discutindo-se frequentemente o interesse dos nazis na personagem de Tim Roth, Coppola lembra-se de mandar toda essa narrativa às urtigas, deixando no ar a questão (talvez a mais pertinente que o filme coloca) isto tudo afinal foi para quê? Na segunda metade, deixa então o lado político para tentar investir no lado humano, mas infelizmente umas quantas banalidades de planos ao pôr-do-sol e à lua cheia não chegam para se criar a intensidade que se pedia àquela relação. Ou, para um exemplo mais escandaloso, recorde-se a viagem até à Índia, cena essencial para começar a desenvolver a relação amorosa. E o que há a dizer sobre essa cena? Do mais pobre e ridículo a nível de encenação, um dos exemplos máximos do amadorismo do filme. De resto, as considerações sobre o amor em oposição à sua vontade de terminar o livro da sua vida são também do mais previsível e simplório, assim como as discussões com o duplo a esse respeito.

Tim Roth vai bem e faz o que pode, mas Coppola não o sabe aproveitar. Na verdade, nunca lhe é dada uma personagem a sério para defender. E o maior exemplo disso são os "poderes especiais" que a personagem adquire com a electricidade do raio que o atinge. Para se tornar credível, pedia-se uma exploração das causas desses poderes em si mesmo e nos que o rodeiam, e não que fossem usados pontualmente quando é necessário que a narrativa avance e tem que se ir buscar qualquer coisa (péssima cena da pistola).

Este regresso de Coppola ao cinema sai, pois, completamente ao lado do esperado. Tem que começar a controlar melhor a taxa de álcool do vinho que produz para ver se a quantidade de asneiras começa a diminuir. E aqui não falo apenas do cinema: os recentes comentários à revista Empire sobre Martin Scorsese são do mais triste que pode haver; bocas de fofocas e de mal-dizer ao nível das discussões do mais básico talk-show. Custa-me fazer tão duras críticas a um cineasta que tanto admiro, mas, para ser justo, não tenho alternativa. Resta-me esperar que Tetro, o próximo filme que tem agendado (2009), seja Coppola de regresso aos grandes filmes.

11.11.07

A Mais Bela das Edições...

...chega a 13 de Novembro!

10.11.07

Gangster Limpinho


Para um filme realizado por Ridley Scott, protagonizado por dois dos melhores e mais carismáticos intérpretes da actualidade, centrado no duelo entre um barão da droga e o polícia que o persegue, as expectativas, mesmo considerando todos os imponderáveis, teriam que ser no mínimo elevadas. E, à cabeça, devo deixar claro que American Gangster ficou longe, muito longe, de me encher as medidas. Talvez desilusão seja uma palavra forte, mas deixou uma sensação clara de vazio.

Não quer isto dizer que American Gangster seja desprovido de méritos. O filme de Ridley Scott é, na sua essência, uma história bem contada, oleada ao mais ínfimo pormenor para manter o motor narrativo a carburar a velocidade de cruzeiro e imperturbável por qualquer sobressalto. Por isso mesmo, os 157 minutos de duração do filme notam-se pouco. Mas, se o bem-fazer narrativo permite cumprir os mínimos de uma experiência agradável, a verdade é que pouco mais vi nesta obra. Por muito que a teia de acções esteja bem urdida, falta-lhe uma rede de relações que a acompanhe a cada momento, introduzindo real densidade Humana, transformando os personagens de meros portadores da história em verdadeiros Actores da mesma. Isso acontece de forma esparsa, reduzindo-se demasiadas vezes a caracterização dos personagens a meros episódios de contextualização, com dois os três diálogos muitas vezes ditos por personagens tipo cuja função se resume a isso.

A sensação de superficialidade é agravada quando passamos para a contextualização histórica e social. Não me refiro aqui, saliento, às liberdades criativas que foram tomadas em relação à true story referida no início, questão tantas vezes levantada nestes casos e que normalmente desvia o debate dos méritos da obra para questões laterais. Refiro-me à forma como é tratada a época e como os personagens e situações se incorporam e interagem com esta. E, se por um lado o filme faz questão de mostrar muitas coisas – a essência Americana, a Guerra do Vietname, a introdução de narcóticos nos Estados Unidos, a questão racial –, elas aparecem retratadas de uma forma não só óbvia, mas acima de tudo superficial. Mais uma vez, privilegiou-se um carácter factual, presente nos vários planos de bandeiras americanas, nos interlúdios televisivos de contextualização, no combate de boxe histórico entre Joe Frazier e Muhammad Ali ou até na sequência sensivelmente a meio do filme em que ao som de música da época (Across 110th Street de Bobby Womack, já usada em Jackie Brown) se acompanha o circuito da droga feita dinheiro das selvas do Vietname até às festas em apartamentos de luxo em Nova Iorque, em detrimento de um carácter vivencial que procure incorporar a época e os acontecimentos eles próprios como verdadeiros Actores da história. A somar a isto, ou porventura como consequência, acaba por sobressair uma sensação de excessiva reciclagem, como se estivesse perante a enésima versão da mesma história contada da mesma maneira.

American Gangster passa também como uma espécie de tentativa de best-off dos filmes do género. Inúmeros foram os filmes que me lembrou, de The Godfather a Goodfellas, de Scarface a Heat. Infelizmente, ao lembrar esses filmes, acaba por salientar a sua menoridade face aos mesmos, reforçando a perda de identidade própria na impossibilidade de recriar criativamente a inspiração que foi lá beber.

Deixo para o fim o melhor. De facto, o pouco algo mais que uma história bem contada que American Gangster trás não é tão pouco assim. É o que acaba por elevar o filme acima da mediania. Falo da personagem central, Frank Lucas, a única que tem uma verdadeira construção dramática (Richie Roberts, o seu contraponto policial, acaba, apesar de todos os esforços de Russell Crowe, por enfermar dos males descritos atrás) e sobretudo da sua encarnação por Denzel Washington. Actor que raramente falha, Washington tem aqui uma das suas mais monumentais criações. É certo que o personagem nunca poderia ficar imune à ecologia dramática que a rodeia, mas a força da interpretação de Denzel é de tal ordem que quase faz esquecer as limitações do argumento quando está em cena. É nomeação garantida, e mais do que merecida, para o Óscar que já ganhou por duas vezes.

American Gangster
prometeu muito, mas não cumpriu a maioria do programa. Acabou por funcionar uma regra de mínimo denominador comum e o todo que fica é claramente inferior à soma das partes. Ou, numa outra perspectiva, talvez acabe por ser um filme que se identifica muito mais com a imagem de marca do seu produtor, Brian Grazer, do que com uma certa visceralidade característica dos filmes de Ridley Scott.

Cativante!

Youth Without Youth, Francis Ford Coppola (2007)

Nunca se deve duvidar da capacidade de Coppola para surpreender. Convocando a meditação, filmando de forma clássica mas redescobrindo o próprio cinema em cada imagem, Coppola jura fidelidade a um estilo de não compromisso perante nada nem ninguém. Quem arrisca desta maneira tem que ser saudado, mesmo que os resultado não seja sempre o sucesso. Youth Without Youth não acerta sempre, mas quando acerta é o cinema na sua forma mais pura e consequentemente mais radical e bela. Viva o Cinema!