A Hora do Génio
Entre os milhões de vídeos instalados no youtube pode encontrar-se esta preciosidade: o genial trailer de «Hour of the Wolf», um dos filmes máximos de Ingmar Bergman e um caso exemplar de material promocional: sendo um meio de divulgação de uma obra, é, ao mesmo tempo, uma verdadeira porta de entrada para o seu universo.
«Hour of the Wolf» é, do ponto de vista cronológico, a obra seguinte a «Persona» (o filme dos filmes de Ingmar Bergman e uma das quatro ou cinco maiores obras-primas da História do Cinema). Não é, pois, de estranhar, como o trailer deixa antever, que compartilhe com ele diversos pontos estéticos e temáticos. Desde logo a assunção e proclamação do carácter absoluto da sua matéria cinematográfica. O que vemos, diz-nos Bergman, é unicamente um filme: não pertence ao mundo das coisas, mas apenas ao mundo do Cinema. Se em «Persona» essa proclamação surge, por exemplo, quando Ingmar Bergman se filma a si próprio (a filmar o seu filme), em «Hour of the Wolf» é a sua voz de comando e os ruídos dos bastidores que ditam o início da obra.
Há, todavia, um outro ponto de similitude entre as duas obras que me parece bem mais revelador: o nome da personagem principal (Alma, nos dois casos!). Mas se é a Alma que aproxima «Persona» e «Hour of the Wolf», é também a alma que os separa: «Persona» é, entre outras coisas, um filme sobre a fusão (de almas); «Hour of the Wolf» é, acima de tudo, um filme sobre a dolorosa separação (de almas). Se essa separação é ditada por um “excesso” de amor (se é que uma palavra aparentemente totalitária como o Amor permite algo que a exceda…) ou por um amor que não comporta os “excessos” da fusão absoluta, eis, porventura, a mais radical questão colocada neste filme.
Uma das razões porque Ingmar Bergman é um génio cinematográfico incomparável é porque nos convence de que o nosso olhar não estava a priori preparado para experimentar o seu cinema. Perante ele regressamos ao local de todas as aprendizagens, ao estado puro das percepções. Basta ver este trailer de «Hour of the Wolf» para perceber isso mesmo…
«Hour of the Wolf» é, do ponto de vista cronológico, a obra seguinte a «Persona» (o filme dos filmes de Ingmar Bergman e uma das quatro ou cinco maiores obras-primas da História do Cinema). Não é, pois, de estranhar, como o trailer deixa antever, que compartilhe com ele diversos pontos estéticos e temáticos. Desde logo a assunção e proclamação do carácter absoluto da sua matéria cinematográfica. O que vemos, diz-nos Bergman, é unicamente um filme: não pertence ao mundo das coisas, mas apenas ao mundo do Cinema. Se em «Persona» essa proclamação surge, por exemplo, quando Ingmar Bergman se filma a si próprio (a filmar o seu filme), em «Hour of the Wolf» é a sua voz de comando e os ruídos dos bastidores que ditam o início da obra.
Há, todavia, um outro ponto de similitude entre as duas obras que me parece bem mais revelador: o nome da personagem principal (Alma, nos dois casos!). Mas se é a Alma que aproxima «Persona» e «Hour of the Wolf», é também a alma que os separa: «Persona» é, entre outras coisas, um filme sobre a fusão (de almas); «Hour of the Wolf» é, acima de tudo, um filme sobre a dolorosa separação (de almas). Se essa separação é ditada por um “excesso” de amor (se é que uma palavra aparentemente totalitária como o Amor permite algo que a exceda…) ou por um amor que não comporta os “excessos” da fusão absoluta, eis, porventura, a mais radical questão colocada neste filme.
Uma das razões porque Ingmar Bergman é um génio cinematográfico incomparável é porque nos convence de que o nosso olhar não estava a priori preparado para experimentar o seu cinema. Perante ele regressamos ao local de todas as aprendizagens, ao estado puro das percepções. Basta ver este trailer de «Hour of the Wolf» para perceber isso mesmo…
1 comment:
Helena,
Acho que é mesmo um filme prioritário na filmografia de Bergman. E digo isto apesar de não ser dos seus filmes mais referenciados. Vendo o filme, percebe-se porquê: é um filme ousado e radical (como «Persona», aliás), mas que envereda também por caminhos mais marginais (como o terror, o surreal e o simbólico) que podem afastar alguns espectadores. Em todo o caso, parece-me um filme nuclear na carreira do mestre sueco, sobretudo se o ligarmos de certa forma, como pretendi fazer, com a sua obra-prima suprema: «Persona».
Quanto ao tempo para ver Bergman, creio que será o tempo de novas experiências e de percepções radicais. Não estamos dispostos a isso todos os dias, estou de acordo!
Cumprimentos e volta sempre
Post a Comment