11.1.07

A Hora do Génio



Entre os milhões de vídeos instalados no youtube pode encontrar-se esta preciosidade: o genial trailer de «Hour of the Wolf», um dos filmes máximos de Ingmar Bergman e um caso exemplar de material promocional: sendo um meio de divulgação de uma obra, é, ao mesmo tempo, uma verdadeira porta de entrada para o seu universo.

«Hour of the Wolf» é, do ponto de vista cronológico, a obra seguinte a «Persona» (o filme dos filmes de Ingmar Bergman e uma das quatro ou cinco maiores obras-primas da História do Cinema). Não é, pois, de estranhar, como o trailer deixa antever, que compartilhe com ele diversos pontos estéticos e temáticos. Desde logo a assunção e proclamação do carácter absoluto da sua matéria cinematográfica. O que vemos, diz-nos Bergman, é unicamente um filme: não pertence ao mundo das coisas, mas apenas ao mundo do Cinema. Se em «Persona» essa proclamação surge, por exemplo, quando Ingmar Bergman se filma a si próprio (a filmar o seu filme), em «Hour of the Wolf» é a sua voz de comando e os ruídos dos bastidores que ditam o início da obra.

Há, todavia, um outro ponto de similitude entre as duas obras que me parece bem mais revelador: o nome da personagem principal (Alma, nos dois casos!). Mas se é a Alma que aproxima «Persona» e «Hour of the Wolf», é também a alma que os separa: «Persona» é, entre outras coisas, um filme sobre a fusão (de almas); «Hour of the Wolf» é, acima de tudo, um filme sobre a dolorosa separação (de almas). Se essa separação é ditada por um “excesso” de amor (se é que uma palavra aparentemente totalitária como o Amor permite algo que a exceda…) ou por um amor que não comporta os “excessos” da fusão absoluta, eis, porventura, a mais radical questão colocada neste filme.

Uma das razões porque Ingmar Bergman é um génio cinematográfico incomparável é porque nos convence de que o nosso olhar não estava a priori preparado para experimentar o seu cinema. Perante ele regressamos ao local de todas as aprendizagens, ao estado puro das percepções. Basta ver este trailer de «Hour of the Wolf» para perceber isso mesmo…

1 comment:

João Ricardo Branco said...

Helena,

Acho que é mesmo um filme prioritário na filmografia de Bergman. E digo isto apesar de não ser dos seus filmes mais referenciados. Vendo o filme, percebe-se porquê: é um filme ousado e radical (como «Persona», aliás), mas que envereda também por caminhos mais marginais (como o terror, o surreal e o simbólico) que podem afastar alguns espectadores. Em todo o caso, parece-me um filme nuclear na carreira do mestre sueco, sobretudo se o ligarmos de certa forma, como pretendi fazer, com a sua obra-prima suprema: «Persona».

Quanto ao tempo para ver Bergman, creio que será o tempo de novas experiências e de percepções radicais. Não estamos dispostos a isso todos os dias, estou de acordo!

Cumprimentos e volta sempre