13.10.06

Little Miss Sunshine


Filme menor que a crítica americana recebeu inexplicavelmente como se de uma obra-prima se tratasse, mas ao qual, ainda assim, se pode (e deve) apontar alguns méritos, entre os quais destaco:

1) O elenco é fabuloso e as personagens muito bem interpretadas, o que evita com que estas não sejam apenas caricaturas banais e desinteressantes. A profundidade do argumento é, de facto, muito pouca, preferindo-se a caricatura à complexidade das personagens. Os actores encarregam-se, no entanto, de que essa caricatura não caia nos clichés mais enjoativos do género, o que acaba por proporcionar muitos bons momentos de comédia.

2) Talvez consciente da sua (falta de) profundidade, o filme nunca escolhe ir pelo caminho do drama, o que sem dúvida seria despropositado, dada a falta de densidade das personagens. Apesar de tudo, Little Miss Sunshine tem uma "mensagem familiar" que pretende passar ao espectador. Ou seja, mais um factor que o poderia guiar pelo caminho do drama, o que os argumentistas e realizadores evitam muito bem, não a martelando em cenas dramáticas fora de tom, mas conseguindo transmiti-la através da comédia. Resultado: não deixando de ser superficial, também não tenta voar mais alto do que poderia, mantendo as suas pretensões ao nível da comédia, onde acaba por acertar de forma eficaz.

4 comments:

Anonymous said...

Não querendo ser moralista, este “Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos” é um filme sobre a importância, a função e o valor da família. Um filme que observa uma família excêntrica e aparentemente improvável, mas que revela ter muito de normal. Integrados na cultura americana do sucesso, sofrendo a pressão do seus próprios insucessos, os Hoover vivem à beira da implosão como família, chocam, discutem, detestam-se, mas acabam por encontrar uns nos outros, o apoio para lidar com a incerteza da vida. Um filme que oscila céleramente entre a comédia e o drama, entre o riso e as lágrimas.

Sem dúvida alguma entre os melhores de 2006.

Cumprimentos.

Miguel Galrinho said...

Concordo que Little Miss Sunshine é (tenta ser?) sobre tudo isso que referes, o problema é a forma como o transmite. Essa disfuncionalidade de que falas e que, claro, está bem presente nesta família, não é explorada de forma muito complexa e humana. As personagens são todas meras caricaturas quase unidimensionais. Cada uma tem determinado vício, mania, tique, etc. Essa forma caricatural de apresentar as personagens funciona como comédia graças ao talento dos actores, mas dramaticamente simplesmente não funciona. Felizmente, o filme não tem muitas cenas que puxem para um lado mais dramático. Tenta, isso sim, transmitir esses valores familiares sempre através de cenas cómicas. Fá-lo de forma eficaz, é certo, mas as personagens não têm densidade suficiente para ser algo mais do que isso.

Cumprimentos.

MPB said...

eu nao concordo. A caricatura, é verdade que existe, mas não a vejo como forma superficial. Em boa verdade a caricatura, procura evidenciar aquilo que de mais característico cada um tem, mas sempre evidenciando de forma eficaz e extremamente curiosa o que as leva a determinado comportamento. Será superficial alguem ler Nietsche? O que isso pode implicar? as questões de personalidade que pode levantar, por detrás dessa disfuncionalidade e acima de tudo por detrás de uma caricatura que pode cair unicamente e no meu ponto de vista redutor, de ser cómico. O que é um soldado lutar na 2ª Guerra Mundial? Não é aquilo que vemos, é muito mais profundo, que resulta numa caricatura, por vezes estranha, mas o que leva aquilo? Assim como o pai frustrado, que esconde a sua frustração, num discurso egocentrico...... É certo e como já disse, a caricatura existe, mas para se conseguir faze-la à uma observação profunda, uma construção de personagens que parte do detalhe sóbrio, para uma totalidade pictoral ou burlesca até.
Este é o meu ponto de vista como é claro, considero que a caricatura com substância para que aconteça, aquelas personagens não acabam ali, extendem-se para o seu passado e é isso que o torna tão agradável, não unicamente a comédia.

Como já evidenciei num comentário logo após a ante-estreia, o início é sublime, a pequena Miss frente à televisão, frente à caixinha mágica, frente à fonte de ilusões, que a família não deixa cair na desilusão.


Cumprimentos ;)

Anonymous said...

É um ponto de vista Miguel. Consigo pegar em alguns dos pontos que referiste e perceber a razão pela qual os mencionas. Não os dei demasiada importância.

Cumprimentos.