9.10.06

MARIE ANTOINETTE : Primeiras Impressões

Em Outubro chega o esperado e já muito criticado (e também venerado) Marie Antoinette de Sofia Coppola. Quem espera um encore de Lost in Translation pode já deixar para trás essas expectativas. Apesar de usar a mesma linguagem filmica desse clássico moderno - e também de Virgin Suicides - Marie Antoinette é uma obra completamente díspar e mais ousada em diversos níveis. Nota-se desde à partida uma maturação na realização de Coppola e uma capacidade ainda mais apurada de construir todo um espaço único, físico e sentimental a partir de um único frame. As imagens que aqui vemos são sumptuosas, belas, extravagantes, artificiais. Até porque conta-se a história de Marie Antoinette, uma (demasiado) jovem arquiduquesa austríaca que aos 14 anos se casou com Louis XVI. Cinco anos mais tarde era rainha de França. Incapaz de sequer comunicar com o seu novo marido e presa nas teias de costumes antiquados e pomposos de Versailles, Marie Antoinette começa a rebelar-se da única forma que era aceite: gastando ridículas quantidades de dinheiro, nunca tendo noção do seu real valor.


Numa interpretação repleta de pequenos e suaves nuances dramáticos, retratando alguém que assume uma vida de actos supérfluos por não conhecer qualquer alternativa, Kirsten Dunst é magistral neste papel e auxilia Coppola na composição de um retrato atípico e impiedoso não só da corte fútil de Versailles, pautado quase sempre por uma banda sonora moderna inspirada e voraz incluindo um resplandecente momento com “Ceremony” dos New Order em fundo, mas sobretudo na leviandade como mostra uma adolescente, perdida num mundo que desconhece, que foi capaz de levar todo um país à falência sem a real percepção do que existia para além dos palácios. Num tom muito inspirado em Barry Lyndon de Kubrick, o cinismo e superficialidade de Marie Antoinette são apenas breves reflexos de uma era de ouro que atingiu um derradeiro final mais cedo do se esperava. E quando se raspa essa superfície apercebe-se que pouco mais existia escondido.


2 comments:

P.R said...

Ora aí está um filme pelo qual anseio bastante. Não sei porque, mas algo me diz que gostarei muito desta nova aventura de Sofia Coppola.

Um abraço

Anonymous said...

Sofia além de ótima diretora de cinema, ela sabe lidar com seus atores de uma forma explêndida, dando chance de criação, e principalmente de liberdade de criatividade. Duas mulheres fortes e certeiras (Marie Antoinette e Sofia Coppola).