5.1.10
23.5.08
Três Semanas
As expectativas sobem cada vez mais e, depois da desilusão que foi Indiana Jones, só Shyamalan poderá salvar a época. E é difícil acreditar que não o fará.
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Miguel Galrinho
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7.10.06
Mitologia vs Humano
Caro João Ricardo,
Uma vez que aceitaste o meu pequeno desafio de termos um debate frente a frente, vou respeitar também a organização estruturada do teu texto e responder-te a cada ponto, individualmente:
1 – Respondendo ao teu terceiro ponto, devo dizer que tenho alguma dificuldade em rever-me na dialéctica que Shyamalan pretende impor nesta fábula. Curiosamente porque me parece uma dialéctica muito distante da que o cineasta, geralmente, procura. «Lady in the Water» tem, a meu ver, mais fascínio pela mitologia (pela possibilidade de existir um «divino») que pela humanização das pessoas perante essa possibilidade. As próprias personagens parecem-me estar limitadas a uma estranha letargia automatizada de acções e reacções (e disso, também me parece que a personagem de Shyamalan é particularmente reveladora), seja na crença imediata e muito pouco sustentada, como já tinha explicitado no meu texto, da personagem do Giamatti, ou mesmo no esquematismo redundante do argumento, gastando metros de película com um jogo de plataformas. Nesse jogo pretende encontrar-se o grupo certo, a disposição certa das peças, as leituras correctas das mensagens do universo e, de repente, apercebemo-nos que tudo falha, é preciso reconstruir o grupo, reler tudo, etc. E, no meio destes jogos, o humano no filme fica resumido a uma série de peripécias e pensamentos sobre a resolução de puzzles efabulados. Pontualmente, Shyamalan regressa à sua sensibilidade e ao seu fascínio pelas fragilidades dos seus actores (desde a apresentação dos condóminos no início, passando pelos primeiros diálogos entre Cleveland e Story, culminando no belíssimo momento de renascimento). Mas são fragmentos pontuais de uma história muito mais preocupada com a exploração da sua mitologia do que com a reconstrução afectiva e humana que a presença mitológica pode impor ao ser humano. É neste sentido que digo que Shyamalan quer desesperadamente que o espectador acredite na mitologia. Perde demasiado tempo a explicá-la. Não era necessário, bastava colocar-nos na intimidade das suas personagens... uma vez lá, acreditamos no que eles acreditam (e na sua coerência).
2 – Parece-me que estás a fazer uma leitura demasiado minimalista do “porquê”. Eu creio que o porquê existe antes de existir o “o quê”. Porquê? Porque a necessidade de acreditar não tem apenas a ver com o objecto de crença, mas sobretudo com a natureza de sermos humanos. Porque somos humanos, sentimos fascínio pelo desconhecido. A partir daí somos capazes de gerar as nossas próprias crenças... aliás, várias foram as religiões que foram criadas ao longo de séculos. Várias fábulas e mitos saíram da nossa imaginação, da nossa necessidade de darmos uma imagem ao desconhecido. Isto pode parecer a história do ovo e da galinha e, em última instância, pouco interesse teria para a nossa discussão, não fosse tu teres referido que o “porquê” te parecia mais um ponto de chegada e que a questão deveria ser “em quê”. Espero deixar assim a minha posição bem esclarecida.
3 – Bom, a questão do monstro como já te tinha dito na minha resposta, é uma fraca referência para sustentar ou favorecer qualquer processo de convencimento. No limite, isto até era fácil de conseguir, até porque o processo de convencimento não é uma metodologia abstracta e universal; ela depende, necessariamente, do «sujeito a convencer». Spielberg, em «ET» sabia que teria esse problema, por isso a saída mais realista era contar a história apenas com crianças. Em «Encontros Imediatos», não só Spielberg coloca as suas personagens em contacto visual directo com os ovnis como, além disso, imprime nelas uma espécie de convite divino a descobrirem o desconhecido. E é este tipo de trabalho de argumento que faltou a «Lady in the Water». Tu dizes que Shyamalan optou por não mostrar essas imagens. Achas que é um mérito artístico. Eu sou da opinião contrária, foi dessas imagens que senti mais falta. Estava muito mais interessado em ver como as pessoas reagiam à história mirabolante daquela bela menina subaquática, do que propriamente em acompanhar os enigmas das caixas de cereais ou as plataformas que eles vão subindo para resolver o puzzle e reenviar a Story para a sua liberdade. Lembras-te que em «ET» existia também uma metodologia para reenviar o pequeno extraterrestre para a sua casa e envolvia um engenhoso mecanismo telefónico cujo funcionamento o filme nunca explica. Será que interessava? Será que interessava saber a estruturação do grupo de humanos que pode ajudar a Story? Interessa saber que há um curandeiro que atrai borboletas? Ou que existe um intérprete? Parecem-me detalhes algo secundários numa história com ambições dramáticas bem superiores. E, no entanto, esses pormenores parecem consumir grande parte da narrativa.
4 – Quanto à honestidade do Shyamalan, julgo que ele acredita totalmente na história que contou. E o que torna a sua honestidade mais comovente são as melhores intenções do mundo que se escondem nas suas imagens. Creio que falha o compromisso com a verdade sobretudo porque é preciso mais que acreditar numa história para se chegar à complexidade que qualquer verdade encerra. Talvez a mitologia seja elaborada, mas o dispositivo humano que nela se passeia está longe de ter recebido a mesma atenção.
5 – Para sermos precisos as minhas palavras exactas foram: «Eu acredito que tu adores o filme. Eu não acredito no filme.» Que diferença essencialmente conceptual está aqui envolvida? O conceito da diferença. Mais do que isso: acreditarmos nessa diferença. Será que Harry Farber acredita na diferença? Bom, é dificil formularmos hipóteses sobre personagens que apenas parecem pavonear o seu mais popular estereótipo. E o mais desconcertante é que me parece ser das personagens mais interessantes do filme (até porque o resto dos secundários nem estereótipos chegam a ser...). Depois de ver o filme, não sei o que é que terá suscitado o interesse de Shyamalan nesta história. Percebo porquê, mas não consigo perceber em quê. Mas ele seguramente perceberá... e os admiradores do filme também.
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Tiago Pimentel
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6.10.06
Acreditar em Quê Porquê
Espero que não tenhas ficado incomodado pelo facto de, no meu texto anterior, me ter referido a ti na terceira pessoa. Sem prejuízo de outros discursos dignos (para mim a dignidade está na correcção), em que comunicamos como se estivéssemos na mesma sala, deixa-me esclarecer-te, como ponto prévio, que me referi a ti na terceira pessoa porque pretendi, “sem prejuízo de um debate mais aprofundado” posterior, estabelecer uma primeira abordagem, numa lógica de explanação de diferenças e não tanto de debate directo. Uma vez iniciado o debate, ainda que mediato, falemos então como se estivéssemos frente a frente.
O teu último texto sobre «Lady in the Water» esclarece algumas questões, mas suscita-me outras tantas. Não querendo alongar-me em demasia, refiro-me, então, a alguns pontos do teu texto.
1 – O “porquê” é um ponto de partida – e eu começo por reconhecer isso: “é um ponto de partida interessante” –, que tem naturalmente a ver com a formulação de hipóteses. Ao contrário do que dizes, não nego a lógica inerente de “princípio-fim”. Bem pelo contrário. O que disse no meu texto é que esse ponto de partida me parece o reflexo de um estado de crença que pouco tem a ver com considerações abstractas sobre a obra. Em todo o caso, tratava-se de uma mera constatação minha, que não encerrava em si qualquer crítica (lógica ou metodológica).
2 – Concordo, de facto, contigo quando referes “que a única forma de sermos honestos com a nossa verdade e com as nossas emoções (seja no cinema, ou em qualquer situação) é pensarmos sempre sobre elas”. Subscrevo, também, a opinião, derivada da anterior, de que é importante racionalizar as nossas emoções, até porque a filosofia segundo a qual as emoções não podem ser racionalizadas sempre me pareceu uma maneira preguiçosa de lidar com os dados que percepcionamos. Eu também racionalizei as minhas emoções. E concluí, diversamente de ti, que esta obra me diz muito.
3 – Ideia com a qual já não concordo é a de que Shyamalan imprimiu uma vontade quase dogmática em colocar o espectador a acreditar na sua fábula. É evidente que o realizador pretende que a sua fábula nos diga algo, mas creio que essa intenção assenta no máximo dos cepticismos (a personagem que Shyamalan interpreta parece-me, nesse sentido, reveladora). E ao contrário do que dizes, parece-me que o papel do espectador não é somente acreditar. Na verdade, o acreditar é apenas um instrumento para reinterpretar ou reponderar o real e nunca um fim em si mesmo. Não me parece, por outro lado, que este filme seja um monólogo; ao contrário, julgo que Shyamalan pretende estabelecer aqui uma dialéctica com o espectador, dando-lhe dados para que este questione o seu papel no mundo (afinal, não é este o paradigma que tem percorrido toda a obra do realizador?). É, nesse sentido, um filme que questiona, com humildade, a capacidade transformadora da Arte, tentando libertar, precisamente, todos os dogmas que perturbam esta potencialidade.
4 – Sustentas depois que a tua questão (acreditar porquê?) antecede a minha (acreditar em quê?). Salvo o devido respeito, discordo. Pelo menos nos termos em que colocas a questão. Tal como defendi no meu texto, é necessário possuir-se previamente uma noção, ainda que inconsciente, sobre o objecto duma crença. É evidente que considerações abstractas de cariz filosófico, moral ou religioso podem ser colocadas previamente, mas mesmo estas acabam por ter origem em algo de empírico. Dito de outro modo: pode colocar-se, em abstracto, a questão: porque razão tem o Homem fé? Porque acredita em algo que não conhece? São questões válidas (ainda que, como se vê, derivem empiricamente duma percepção do real, sendo por isso posteriores à assimilação dalgum objecto de crença). Mas se nos colocamos num plano de análise concreta de uma obra, e se nos questionamos se devemos acreditar em algo que dela emana, então só faz sentido, do ponto de vista lógico, perguntar pelo “porquê” se possuirmos uma noção do “o quê”. Devemos, por isso, perguntar, não só do ponto de vista dialéctico, mas também do ponto de vista dos mecanismos abstractos do pensamento, o seguinte: Acreditas? Em quê? Porquê? Por esta ordem. Como responder se acredito se não sei a que objecto se refere a crença?
5 – A recondução ao real perde sentido, na minha opinião, precisamente quando os códigos do real não conseguem acolher os dados que a ele se pretende reconduzir. Certo que a noção de monstro é demasiado ampla, mas dentro dela cabe certamente a ideia apriorística de “ser irreal”. A personagem de Paul Giamatti tenta, ainda, reconduzir o monstro ao real, mas à medida que outros dados, também “irreais”, o remetem para outro universo, a sua ela vai perdendo a sua fé no real. É um processo complexo, que Shyamalan nos apresenta subtilmente. Por vezes omite esse processo, como digo, mas isso é uma opção de foco artístico, não de negligência narrativa. Aliás, Shyamalan já analisou a fundo essa questão noutros filmes, pretendendo agora, legitimamente, atentar mais concretamente noutras vertentes do mesmo problema.
6 – Finalmente, a questão da incongruência. Mantenho que o teu texto é claro e inteligente. E mantenho, obviamente, intacta a enorme consideração intelectual que tenho por ti. Nunca foi isso que esteve em causa, como bem sabes. O que pretendi acentuar foi a fragilidade da tua argumentação neste ponto, o que não implica que o texto, na sua globalidade, deixe de ser inteligente e claro. Acentuei esta questão sobretudo porque me pareceu algo radical a tua afirmação de que o filme falha rotundamente o seu compromisso com a verdade. Isto dito assim, desta forma tão peremptória, pareceu-me prejudicar um pouco a ideia de que a obra era honesta. Porque, de facto, quando não se acredita nas capacidades do Homem e ao mesmo tempo se conta uma história em que o que está em causa é, precisamente, o próprio papel do Homem, é a honestidade que acaba também por ficar comprometida. Admito que seja um ponto em que as limitações do diálogo indirecto se acentuam, e que, no fundo, estejamos os dois a dizer a mesma coisa com formulações diversas…
7 – Não me parece contraditório que eu acredite na obra e tu não. Nem que a democracia tenha, sob este ponto de vista, qualquer contrariedade. Temos opiniões bem diferentes sobre este filme, mas nenhum de nós pretende converter o outro. Encontramo-nos apenas para trocar ideias e acentuar a subjectividade da Arte, não para encontrar no outro a confirmação das nossas verdades. Mas na democracia moram também opiniões contrárias. Como as de Harry Farber. Ou será que ele também não existe?
Um abraço
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João Ricardo Branco
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4.10.06
A religião, os dogmas e o cinema.
Espero que não fiques incomodado por te dirigir esta minha resposta na primeira pessoa. Sem prejuízo por outros discursos dignos que implicam necessariamente comunicar com os formalismos adequados (alguns desses discursos tu conheces bem da tua área profissional), creio que, tanto este espaço como a relação de amizade que temos, nos permitem ultrapassar essa distância profissional e comunicarmos como se, de facto, estivéssemos os dois na mesma sala. Antes de mais, deixa-me relembrar-te que a minha questão sobre o porquê de acreditarmos tem a ver com uma abstracção necessária da minha parte (é bom não esquecer que a abstracção tem, em última análise, a ver com a formulação de hipóteses). É uma expressão que norteia a filosofia há vários séculos e tem sempre a ver com o questionamento inesgotável da realidade que recebemos. A capacidade de perguntarmos sempre “porquê?” permite-nos partir sempre de um princípio (a pergunta), para chegarmos então a um fim (a resposta... que em boa verdade, poderá dar origem a nova(s) pergunta(s) e por aí fora), ao contrário do que defendes no teu texto, mas seguramente serás capaz de concretizar. De facto, eu não acreditei. Tu acreditaste. Ambos partilhamos o mesmo ponto de partida: porquê?
Porquê a necessidade de perguntarmos porquê? (asseguro-te que, novamente, pretendo com esta questão colocar-me num ponto de partida para te clarificar a minha posição) Porque, de facto, parece-me (e sei que partilhas da minha opinião) que a única forma de sermos honestos com a nossa verdade e com as nossas emoções (seja no cinema, ou em qualquer situação) é pensarmos sempre sobre elas. Interrogarmos as nossas lágrimas e os nossos sorrisos permite-nos aprender a lidar com a nossa própria complexidade. E em «Lady in the Water» essa necessidade de racionalizar (esta palavra é tão mal amada...) pareceu-me tanto mais fundamental quanto me apercebi que estava a ver um filme que tanta coisa parecia bater certo (a realização era fascinante, a entrega dos actores soberba e todo fascínio pelo fantástico enquadrava-se numa lógica que, pessoalmente, sempre me foi muito próxima) e, no entanto, a minha distância em relação ao filme aumentava drasticamente a cada fotograma. Porquê? Por uma série de razões que enunciei no meu texto e que, como compreenderás, não irei reproduzir. Em boa verdade, o caso de «Lady in the Water» parece-me evidente de uma vontade quase dogmática do autor em colocar o espectador a acreditar na sua fábula e, também por isso, torna-se mais fundamental do que nunca interrogarmo-nos sobre o seu dogma.
«O que significa, afinal, acreditar numa fábula?» O mesmo, claro, que acreditar em qualquer história. O caso deste filme de Shyamalan parece-me apenas mais gritante por consequência dogmática da sua relação com o fantástico, lidando com ele como se se tratasse de uma religião previamente instituída, em vez de uma realidade a construir (com todos os cuidados narrativos que lhe estariam subjacentes), reduzindo o fantástico (e o divino) a um monólogo dogmático e o espectador a um crente inquestionável da sua fé. De facto, é essa “arrogância” que me distancia do filme; isto é, pensar que o único papel do espectador é acreditar... porque todos no filme parecem fazê-lo. Perguntas se o facto de acreditarmos, ou não, tem a ver com as implicações morais da história. Em boa verdade, creio que a moral depende sempre de opções complexas... no olhar, no sentir, na forma de contarmos uma história. A moral de «Lady in the Water» lembra-me um pouco aqueles contos soltos da Bíblia (o capítulo do Adão e Eva, por exemplo) que se ensinam na catequese aos miúdos e que qualquer adulto responsável sabe que a sua crença no divino e no espiritual não se constrói (nem depende) deles. A construção da fé tem sempre a ver com algo mais que uma «punchline» moral; tem a ver necessariamente com a nossa disponibilidade para questionarmos a nossa relação com o desconhecido. Dito por outras palavras: acreditar porquê? Tu propões uma alternativa: acreditar em quê? Em boa verdade, parece-me que a minha questão é anterior à tua. O porquê é necessariamente abstracto e, como explicitei acima, é a base de qualquer sentimento humano. Por natureza, como sabemos, o ser humano tem tendência para precisar de acreditar no que desconhece para criar um sentido para o seu mundo. Agora, em que é que escolhemos acreditar, é uma interrogação válida, mas posterior (a meio caminho entre o ponto de partida e o de chegada, provavelmente).
«(...) à medida que essa recondução ao real perde sentido que se começa a acreditar em algo para além do real.» Faz sentido, passo a redundância, perguntar então quando é que essa recondução perde sentido. No teu texto fazes esta afirmação com convicção mas não a sustentas. Em vez disso, integras na tua argumentação uma justificação que me parece deslocada: «até porque quando se é perseguido por um monstro, se deve questionar imediatamente o real.» É bom não esquecer que o conceito de monstro me parece muito vago (sobretudo para a primeira imagem que nos é mostrada) para questionarmos o que quer que seja (em última análise, é uma fraca referência para nos colocar de imediato no lado da fé que Shyamalan tanto pretende). De facto, pelo mundo fora não faltam situações de crenças provocadas por aparições e imagens que só as pessoas podem explicar (muitas delas, de facto, são pouco interessantes e, nesse sentido, não dariam uma grande história para um filme). Repara, não coloco nada contra a mitologia em si, apenas à forma como é tão pouco trabalhada a sua integração na realidade do espectador. Tudo, em última análise, depende de um contexto, mas esse contexto tem de ser construído! Nenhum filme se pode arrogar de ter o seu próprio contexto apenas porque habita num determinado género de ficção.
Remeto-te, por breves instantes, para uma conversa que tivemos em privado no msn, onde discutíamos este filme por comparação com o «ET». Apesar de ambos partilharmos da conclusão que são experiências absolutamente distintas, é preciso perceber que o Spielberg tem uma abordagem radicalmente oposta à de Shyamalan. Repara, para Spielberg o lugar de origem do ET não interessa; interessa sim, o lugar afectivo que ele veio preencher. A determinada altura, as próprias crianças debatem o seu lugar de origem (a sua casa que, como viríamos a aprender com o filme, tem pouco de geográfico ou mitológico), sendo que a personagem da pequenina Drew Barrymore até pondera ele ser um animal qualquer. A mitologia de facto era pouco relevante, o que interessava era assistirmos ao preenchimento e mudança real e visível das pessoas tocadas por aquele ser. Em «Lady in the Water» não me parece existir essa preocupação pelas personagens. Parece-me que as personagens existem numa espécie de espectáculo de marionetas, com uma presença meramente simbólica e serviçal em função de uma denúncia moral que Shyamalan pretende impor. O argumento que apresentas do filme escolher não mostrar o processo de convencimento das personagens é, para mim, uma demérito enorme da construção narrativa do filme e do seu imaginário. É que essas imagens que faltam, são precisamente as que mais interessavam: são as reacções humanas e afectivas das pessoas (que, pessoalmente, me interessam mais do que saber o que é que eles conseguem ler nas palavras cruzadas de um jornal ou numa caixa de cereais).
Para terminar, dizes que cometi uma incongruência ao referir a honestidade do filme, ao mesmo tempo que implico que Shyamalan não terá acreditado nas suas personagens e na sua história. Parece-me desconcertante teres concluído esse pensamento, depois de teres caracterizado o meu texto como claro e inteligente. Claramente, inteligência é coisa que nunca poderia habitar num texto com incoerências desse género. Esperando então continuar a merecer a tua estima intelectual, deixa-me clarificar a situação. Logicamente que Shyamalan acredita de forma convicta no imaginário que está a contar. Mas as palavras formam-se também de conotações e denotações e eu acho que, no limite, ele não acreditou nas capacidades humanas das suas personagens. Acredita, sem dúvida, no seu papel e na sua função para a história, mas sem a crença humana que lhe reconhecíamos de outros filmes. Isso faz dele menos honesto? Penso que não. Menos criativo e artístico talvez... Eu acredito que tu adores o filme. Mas eu não acredito no filme. Parece contraditório? Talvez, estamos cá para lidar com as contrariedades da democracia.
Abraço
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Tiago Pimentel
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3.10.06
Acreditar em quê?
Sem prejuízo de um debate mais aprofundado sobre o assunto, deixo aqui alguns tópicos de “resposta” (as aspas pretendem acentuar a ideia de que não há verdadeiramente uma resposta a uma opinião, mas apenas a introdução de argumentos que sustentem uma visão diversa sobre a mesma matéria cinematográfica).
A questão nuclear que o Tiago coloca no seu texto – bem presente, aliás, no título do mesmo – prende-se com as razões que levam (a nós e às personagens) a acreditar. É um ponto de partida interessante, embora no presente caso me pareça, inevitavelmente, o reflexo de um ponto de chegada. Ou, dito de outro modo: a interrogação que o Tiago coloca não me parece verdadeiramente um ponto de partida, mas antes a tentativa de justificação de um outro dado, com o qual apenas ele pode lidar: ele não acreditou!
Mas importa ir um pouco mais longe e, antes de perguntar pelo “porquê”, indagar sobre o “quê”. Ou seja, perguntar: “acreditar em quê?” em vez de “acreditar porquê?”. Não se trata de um mero jogo de palavras, mas sim de lançar as bases para uma análise aprofundada da obra. Porque, de facto, antes de nos questionarmos sobre se acreditamos em algo devemos saber em que acreditar, para onde dirigir a nossa fé. É, assim, legítima a questão: quando o Tiago se interroga sobre se devemos acreditar ou se nos são dadas razões para acreditar, refere-se concretamente a quê? A resposta que se retira do texto – acreditar na fábula que Shyamalan nos conta – só aparentemente é satisfatória: o que significa, afinal, acreditar numa fábula? É acreditar que é real? É acreditar que pode ser real? Ou é, ao invés, acreditar nas implicações morais e/ou simbólicas que dela derivam? Ou será, ainda, acreditar que as personagens acreditam ou que naquele contexto podem acreditar?
Bem se percebe que por trás da simples interrogação “acreditar porquê?” mora uma complexidade que não se compatibiliza com respostas mais ou menos esquemáticas. A interrogação “acreditar porquê?”, que norteia todo o texto do Tiago, surge, desta forma, destituída das bases necessárias para que seja verdadeiramente respondida. É, bem se percebe, o tal efeito de reflexo que deriva de um afastamento subjectivo da obra.
Passemos, então, às personagens. Porque para o Tiago parece ser inverosímil (ou, pelo menos, negligentemente explicitado) que aquelas personagens acreditem que uma narfa lhes habita o condomínio. Ora, esta ideia – que é uma ideia fundamental no texto – é que me parece pouco sustentada, quando não mesmo adulterada em detrimento de um conjunto de conclusões redutoras que não têm em conta a enorme complexidade dramática da obra, bem como o seu tempo narrativo.
Exemplo dessa adulteração está nesta interrogação do Tiago: “Porque é que a personagem de Paul Giamatti acredita imediatamente que ela é uma narfa que foge de uns monstros que se escondem na relva e parte em busca instantaneamente de um alegado escritor que ela procura?”. Ora, quem já olhou com atenção para o filme sabe perfeitamente que este dado, que o Tiago parece dar como objectivo, está longe daquilo que as imagens nos mostram. De lado nenhum me parece ser lícito retirar que a personagem de Paul Giamatti acredita imediatamente que tem uma narfa em casa. Bem pelo contrário. O que vemos é todo um processo de convencimento e nunca uma conversão imediata. Aliás, ele começa por reconduzir, muito naturalmente, ao real a narfa e todos os dados disponíveis sobre ela: toma-a a ela como uma miúda e o “blue world” como um apartamento ou condomínio. É à medida que essa recondução ao real perde sentido que se começa a acreditar em algo para além do real (ou, se se preferir, noutro real). Esta evolução é perfeitamente lógica no contexto da fábula e é plenamente sustentada do ponto de vista dramático. Ilógico e pouco produtivo seria prolongar (ou explicitar) as dúvidas, até porque quando se é perseguido por um monstro, se deve questionar imediatamente o real (e note-se que Shyamalan, numa inteligentíssima elipse, corta do plano da porta a fechar-se para um outro plano, já de dia, em que se procuram vestígios do “animal” que o havia perseguido na noite anterior).
Em todo o caso, parece-me importante sublinhar que acreditar em algo é sempre um acto de fé. E que um acto de fé, precisamente por ser de fé, não se compadece com a ideia de processo de aprendizagem característica do saber. Nesse sentido, mesmo que a personagem de Paul Giamatti acreditasse imediatamente que estava perante uma narfa, em nada sairia abalada a lógica inerente à crença. Não faltam casos por esse mundo fora em que uma “aparição” convoca imediatamente uma crença.
E as restantes personagens da história? Bom, quanto a essas a questão parece-me mais simples: Shyamalan optou por não filmar expressamente a reacção imediata dos habitantes do condomínio à história de Story, que a personagem de Paul Giamatti lhes ia contanto. Em todo o caso, aqui a lógica é outra: trata-se, numa primeira fase, duma crença que surge mediada por um terceiro – a personagem de Paul Giamatti –, pelo que será pertinente perguntar se os restantes habitantes não acreditarão também porque a personagem de Paul Giamatti acredita…
Sem prejuízo de outras questões suscitadas pelo Tiago, parece-me ainda pertinente atentar na palavra honestidade, que o Tiago utiliza por diversas vezes. Reconhecendo que habita em «Lady in the Water» uma enorme honestidade, o Tiago contrapõe depois uma ideia de verdade. Concordo que são duas expressões distintas. Mas parece-me algo contraditório dizer-se que Shyamalan é genuinamente honesto a contar esta história e ao mesmo tempo invocar que falha o compromisso da verdade por não acreditar nas suas personagens e na história que conta: se se conta algo em que não se acredita não se é honesto. Pela minha parte, creio que Shyamalan acredita profundamente na sua história e nas suas personagens. E o que nos mostra é, precisamente, o seu olhar, em toda a sua complexidade: apresenta-nos a sua verdade! Uma verdade bela e inspiradora.
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João Ricardo Branco
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19:30
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Acreditar porquê?
Neste contexto, surge «Lady in the Water», a última ficção do cineasta indiano com uma desconcertante relação com o fantástico, reduzindo-o (pela primeira vez na sua carreira) a um conjunto de «regras de jogo», consumindo gande parte do argumento em ilustrações esquemáticas e verbosas para integrar o espectador no imaginário, em vez de criar uma consistência dramática que menorizasse a imensa negligência pelas verosimilhanças do real (onde, apesar de tudo, o filme pretende habitar). Interessa, portanto, colocar uma interrogação fundamental: acreditar porquê? Importa, antes do mais, questionar a religiosidade das imagens para além dos seus próprios dogmas, sem esquecer que a ficção é sempre uma possibilidade e nunca uma realidade inquestionável.
Que razões nos dá, então, Shyamalan para escolhermos acreditar na sua fábula? Acreditamos porque as personagens acreditam? Acreditamos porque as imagens são sinceras? E se isto for verdade, porque é que as personagens acreditam? Tudo isto são interrogações que me parecem nucleares numa obra de ficção que pretende instalar-nos num imaginário completamente novo, com as suas próprias regras e criar o seu próprio estatuto moral. No entanto, Shyamalan parece ignorar a necessidade de colocar este tipo de questões no seu filme. Parte do princípio que a honestidade das suas imagens e das suas pretensões seriam suficientes para converter qualquer um, mas a verdade é que isto me parece menos um mérito artístico e mais negligência narrativa.
(...)
Ler o artigo na íntegra em:
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Tiago Pimentel
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28.9.06
Renascer
Este filme de Shyamalan faz-me lembrar, aliás, uma Fénix, a belíssima ave mitológica que após a morte renascia das próprias cinzas. Porque se trata, de facto, de um verdadeiro milagre transformador: tudo parece aniquilado, mas tudo acaba por renascer. Numa perspectiva mais radical, é como se Shyamalan pretendesse que a sua arte morresse para poder começar tudo outra vez, de forma redobradamente límpida e pura.
Nesse sentido, «Lady in the Water» surge ao mesmo tempo como um filme de síntese e como um filme de transição. O realizador junta os elementos primordiais dos seus filmes anteriores e leva-os até àquele ponto-limite em que nada já parece fazer sentido. Mas antes da aniquilação total e definitiva, supera-se e renasce-se para um novo começo. Poucas vezes se assistiu a tamanha demonstração de fé na capacidade transformadora da Arte!
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João Ricardo Branco
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Etiquetas: 2006, Lady in the Water, M. Night Shyamalan, renascer
Onde ficou a história?
Como quase todos os falhanços monumentais, este acaba por ser um objecto singular, que será provavelmente tratado por alguns como filme de culto e objecto incompreendido. A legião de fãs do realizador encarregar-se-à de enumerar os seus imensos méritos pelos anos fora. SIngularidade não é, contudo, sinónimo de qualidade e, aos restantes, resta esperar que Shyamalan aproveite este tremendo falhanço para fazer uma pausa para meditação e auto-avaliação, regressando ao que sabe fazer como poucos. Se assim for, terá valido a pena o percalço.
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Anonymous
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Etiquetas: 2006, Lady in the Water, M. Night Shyamalan
Man may have forgotten how to listen...
É uma pessoa, geralmente uma mulher, tão cheia de esperança, que é capaz de despertar a força vital nos seres vivos.
Esta frase é dita por Paul Giamatti em «Lady in the Water» para descrever uma personagem da história de embalar. Mas poderia muito bem servir para descrever o próprio filme, um objecto cinematográfico com uma mensagem de esperança tão sincera que é capaz de fazer mergulhar o espectador no seu mundo de fantasia e tocar-lhe profundamente. Mas nem por isso é de estranhar que o filme tenha sido tão mal recebido, e que só poucos o adorem incondicionalmente. É normal que não se trate de um filme que consiga encantar qualquer um, visto que se trata de um projecto incrivelmente pessoal; algo muito sentido pelo realizador, e essa genuinidade sente-se imagem a imagem. E, por ser tão pessoal, é natural que não seja aceite por todos da mesma forma. Ou, por outras palavras, é um filme feito menos com a cabeça e mais com o coração.
Shyamalan continua fiel a si próprio, com personagens meio mortas, meio vivas, quase desligadas do mundo real, consequência de fantasmas do passado que continuam a assombrar o presente, roubando-lhes não só a felicidade, mas a fé e a esperança. Porém, a esperança continua lá, escondida no fundo do coração do mais infeliz e desencantado dos seres humanos, reencontrando-a apenas quando “um anjo” lhe aparece, ensinando-o a procurar a sua fé e mostrando-lhe a razão de viver. Afinal, tudo se resume à difícil capacidade acreditar. Em quê? Em nós próprios e em toda a humanidade.
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Miguel Galrinho
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26.9.06
Recordar uma obra-prima...
Contudo, e apesar da progressão qualitativa que se tem vindo a registar na sua obra, nada prepara o espectador para a profundidade de um filme como The Village, o melhor filme a sair da imaginação do autor, formando com Signs um dos mais importantes e comoventes dípticos da história do Cinema recente no que respeita à análise do papel do Homem no Mundo, das suas relações, medos e mecanismos de sobrevivência.
Uma lápide num dos planos iniciais do filme indica o ano de 1897, numa comunidade rural, isolada por uma densa floresta que a separa da cidade. A comunidade, assente em valores tradicionais, é liderada por um grupo de anciãos fundadores, que conseguiu negociar tréguas com as criaturas fantásticas que vivem na floresta, seres míticos que nunca ninguém viu mas que todos temem, protegendo-se com estandartes e roupas amarelas e renegando a tudo o que ostente a cor vermelha.
Um rapaz da vila, Lucious Hunt (Joaquin Phoenix, cada vez mais denso) apresenta a proposta de se aventurar pelos bosques, em busca de medicamentos e provisões que assegurem uma maior taxa de sobrevivência da população, e este facto vai desencadear acontecimentos que irão pôr em causa os princípios pelos quais aquela sociedade se rege. Para isso contribui também o amor de Lucious por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard, que numa primeira interpretação de tirar o fôlego quase mostra mais talento que o pai Ron em toda a sua carreira...), a filha cega do ancião-mor (William Hurt) e o fascínio que esta exerce sobre Noah Percy (bela e perturbante criação de Adrien Brody), o louco da vila. Revelar mais sobre a história seria negar o prazer de fruir do seu genial desenvolvimento.
Shyamalan, que com Signs conseguiu utilizar uma invasão extra-terrestre como pretexto para introduzir a mais tocante e vibrante reflexão sobre a Fé de que há memória, serve-se aqui de um conto de terror gótico, que poderia ter saído do imaginário de Edgar Allen Poe ou de uma releitura distorcida das fábulas clássicas dos Grimm, como ponto de partida para dissertar sobre o(s) estado(s) das sociedades contemporâneas, numa inteligentíssima alegoria com os acontecimentos que marcaram a História Mundial recente.
Mais do que um filme que mete medo - e, seja dito, os ataques nocturnos das criaturas e o “confronto” final estão imersos num clima de cortar à faca - The Village é um estudo sobre o próprio medo. De facto, depois de mostrar o efeito que ele produz sobre os indivíduos, Shyamalan dedica-se à desmontagem dos seus mecanismos internos, até chegar à própria criação do medo e às razões que a (in)justificam, criando assim uma poderosa e inesperada metáfora sobre a América actual, os seus fantasmas e obsessões. De facto, os fundadores da comunidade são uma imagem dos poderosos que, ainda que munidos de boas intenções como qualquer governante à partida o faz (e elas aqui são nobilíssimas), utilizam o medo como arma de que se servem para iludir e subjugar os outros à sua visão. Na ânsia de criar um microcosmos desassombrado de corrupção e violência, a ameaça pelo medo acaba por se sobrepor e levar a um mundo ainda mais corrupto e violento no seu seio, que o corrói por dentro e o deteriora, e em que a loucura, inocente ou forjada, da personagem de Brody acaba por ser a forma aparente de lidar com o peso da verdade.
Mas nem tudo é negro nesta abordagem: o cineasta inunda o seu filme com a luz do Amor, como último reduto para a sobrevivência emocional e social, mostrando que há uma réstia de esperança para que o Mundo progrida num clima de subjugação. Quem acaba por sair da comunidade e conhecer a “tenebrosa” cidade é, ironicamente ou não, Ivy, que apesar se ser cega por natureza está também cega pelo amor que sente por Lucious, o que lhe “devolve” a visão e, no intuito de o resgatar da morte, a faz empreender uma viagem ao interior do seu próprio medo, mesmo sabendo que as fundações desse medo já não tinham razão de ser.
É ela que, depois de ter estado no (mais) corrompido Mundo Exterior e, secretamente, ter visto sem olhar a sua verdadeira natureza, volta para salvar a sua razão de viver e perpetuar o Mundo Interior da vila, agora sob o signo de uma nova religião, a do Amor e da Esperança. Se Lucious era a Coragem, Ivy é o Amor, e este nem o medo nem a superstição conseguem submergir: aos seus olhos, a cor de Lucious, sem nunca nos ser revelada, não seria certamente amarela ou vermelha, mas sim uma mistura de todas as cores, pois o Amor tudo absorve, tudo consome.

Está então subjacente nesta película uma forte mensagem, que faz com que seja a primeira fita assumidamente política de Shyamalan. É algo óbvio que a situação política americana fez parte da agenda do criador nesta sua nova obra: os sinais são claros, desde os códigos de cores semelhantes aos utilizados nos estados de alerta pós-11 de Setembro até ao uso da intimidação como forma de apoio a uma ideia de governação que toda a gente aceita sem saber ao certo qual é. Sem a pretensão de colocar a dimensão política em primeiro plano e salvaguardando as devidas distâncias entre dois objectos tão distintos, não deixa pois de ser chocante que alguma crítica norte-americana louve um objecto tão medíocre e manipulador como Fahrenheit 9/11 para logo de seguida não reconhecer nesta obra uma muito mais inteligente e subversiva leitura de alguns feitos da administração de George Walker (mais um sinal...) Bush.
Para o sucesso do conceito, há que louvar os aspectos técnicos do filme, com mais uma realização de planos perfeitos e plenos de pormenor e inebriante beleza, uma extraordinária banda-sonora de James Newton Howard, uma fotografia de contrastes de Roger Deakins e ainda mais um assombroso trabalho sobre o som, que amplifica as emoções das personagens e as do espectador. Os actores são absolutamente extraordinários, conseguindo Shyamalan extrair do seu elenco de luxo poderosas interpretações, com tempo e espaço para se estenderem e se perpetuarem na memória. Se as criações de Brody, Phoenix e Hurt são fascinantes, a nota de destaque terá que ir para Bryce Dallas Howard, que nesta sua primeira interpretação como protagonista mostra que é por rostos como o seu, belo sem perder a verdade emocional e inocente sem ser virginal, que passa o futuro do Cinema.
Tal como Hitchcock, M. Night Shyamalan volta a surgir mais uma vez no seu filme, numa intrigante mas esclarecedora aparição em off, inteligentíssima concepção do estatuto que adquiriu. Ele é, de facto, o mais fascinante contador de histórias do Cinema contemporâneo, tendo conseguido com The Village entregar mais uma obra-prima de verdade e arte puras.
Publicada por
João Pedro Saraiva e Jorge
em
22:38
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Etiquetas: 2004, M. Night Shyamalan, The Village
24.9.06
Unbreakable
Publicada por
Miguel Galrinho
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21:18
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Etiquetas: 2000, M. Night Shyamalan, Unbreakable
22.9.06
wide awake, now...

O tema está presente, de forma mais ou menos explítica, em qualquer filme de Shyamalan, mas num deles sobressai: «Sinais». Tal como neste, qualquer coisa se perdeu, sentindo a personagem principal necessidade de acreditar em algo divino, de forma a evitar a solidão. Por outro lado, contrariamente a «Sinais», não é um padre que duvida da sua fé, mas uma criança de dez anos, que decide procurar Deus após a morte do avô.
O caminho é, como sempre, composto por dúvidas e incertezas, mas adaptadas à visão ingénua e sincera de uma criança, que Shyamalan capta de forma incrivelmente genuína e comovente, pela forma como constrói personagens e relações. Uma das taglines do filme diz-nos: “Meeting your best friend. Finding your favorite teacher. Having your first crush. Remember what it felt like to be...”. E não deixa de ser verdade: os sentimentos que levam o pequeno Joshua a prosseguir na sua busca são de tal forma sinceros, que M. Night Shyamalan permite, de facto, que o espectador se recorde de como é ser criança.
Publicada por
Miguel Galrinho
em
11:22
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Etiquetas: fé, M. Night Shyamalan, Vídeos, Wide Awake
19.9.06
Profunda desilusão...

Publicada por
Tiago Pimentel
em
18:04
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Etiquetas: desilusão, Lady in the Water, M. Night Shyamalan