28.9.06

Onde ficou a história?

Uma pequena nota para constatar que se confirmam os piores receios em relação à última película de Shyamalan. Louvando a ousadia do esforço, há que constatar a crua realidade: Lady in the Water é um filme completamente falhado. Os actores são sólidos, a fotografia excelente, a banda sonora magnífica, os enquadramentos e movimentos de câmara irrepreensíveis. Mas, num filme que se entende como metáfora para a magia e a simplicidade do melhor storytelling e como crítica ao cinismo que corrói corações e a nossa própria humanidade acaba por faltar justamente o mais importante - uma história sólida e verdadeira ligação emocional ao seres que habitam esta película. O filme oscila entre o risível e o ridículo, com personagens completamente perdidos na forma esquemática como Shyamalan pretende forçar o seu ponto (e há que carregar no forçar, pois os cordelinhos que ele está a puxar são tão ostensivamente expostos que não andamos muito longe de chamar o espectador de estúpido), acabando engolido pela onda daquilo que pretendia criticar. No meio de uma história de encantar caída não se sabe muito bem de onde (a não ser no seu propósito serviçal à tese do filme), de múltiplas personagens cuja existência é nula para além do mero desígnio funcional, de momentos de estereotipação que tocam no incomodativo, sobra muito pouco para o espectador se agarrar além de uns quantos momentos de humor bem conseguidos.

Como quase todos os falhanços monumentais, este acaba por ser um objecto singular, que será provavelmente tratado por alguns como filme de culto e objecto incompreendido. A legião de fãs do realizador encarregar-se-à de enumerar os seus imensos méritos pelos anos fora. SIngularidade não é, contudo, sinónimo de qualidade e, aos restantes, resta esperar que Shyamalan aproveite este tremendo falhanço para fazer uma pausa para meditação e auto-avaliação, regressando ao que sabe fazer como poucos. Se assim for, terá valido a pena o percalço.

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