Voltar ao mesmo
Volver, de Pedro Almodóvar, recupera algum do seu, a espaços, fascinante sentido de humor sobre os reflexos instalados no tecido social, mas também algumas das suas limitações enquanto dramaturgo, convocando frissons melodramáticos que nunca têm hipótese de serem mais que meras caricaturas sociais e familiares limitadas à sua própria inconsequência. Em todo caso, o trabalho dos actores é, de facto, uma mais-valia que importa valorizar, concretamente a surpreendente composição de Penélope Cruz no papel de uma mãe que se vê colocada numa situação (a morte do marido) que começa por ser fulgurante do ponto de vista dramático mas que, como tudo o resto no filme, acaba por se transformar em mais uma nota de rodapé referida pontualmente para criar uma espécie de teia narrativa, tão desconcertante quanto caricatural. Carmen Maura, no papel da fantasmagórica mãe introduz, de facto, um subtil elemento dramático à acção: a presença de uma entidade materna cuja identidade é, de facto, um dos poucos lugares dramáticos para onde Volver ocasionalmente converge.
O drama e a comédia voltam a rimar neste filme, embora não de forma tão equilibrada como no magnífico Fala com Ela (onde, de facto, a comédia era também uma forma dramática). Há algo de inconsequente em toda a volúpia dramática de Volver, uma espécie de frustração desconcertante que sentimos na câmara de Almodóvar, atenta a detalhes afectivos que, em boa verdade, não existem. Resta a corrosão e eficácia do seu sentido de humor na composição de uma sátira familiar, por diversas vezes enfraquecida por um argumento demasiado distante das suas personagens, troçando-as como se fossem restos de uma piada ou de uma caricatura bem desenhada. Poucos ecos vão ficar, mas Volver é, para todos os efeitos, um interessantíssimo reencontro com Pedro Almodóvar.
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